A política e cantora de tangos uruguaia Sandra Lazo já foi cogitada para concorrer à vice-presidência nas eleições de 2019 e hoje é senadora da República reeleita pela Frente Ampla para o período de 2020-2025.
Ela integrou a delegação latino-americana organizada pelo Fórum Latino-Palestino para a Conferência de Parlamentares por Jerusalém que reuniu, em Ancara, na Turquia, no dia 30 de novembro, deputados e senadores de todas as regiões do mundo preocupados em dar apoio à causa palestina, articulando ações em níveis regionais e internacionais.
Nascida em Montevidéu, em 12 de abril de 1967, em uma família simples de trabalhadores, Sandra Lazo tornou-se professora de música e precisou parar com os estudos técnicos em arquitetura, pois tornou-se uma mãe muito jovem aos 18 anos.
Embora não tenha sentido na pele os efeitos da ditadura, tendo uma infância feliz, isso mudou na juventude, quando o sofrimento causado pelo governo militar ao seu país marcou suas escolhas e ela integrou a Juventude Comunista e passou a lutar pela democracia, até passar a disputar eleições. Chegou ao parlamento como senadora suplente em 2010.
A ligação afetiva de Sandra Lazo com o povo palestino nasceu da convivência com imigrantes no Uruguai. Ela recorda esse fato na entrevista ao Monitor do Oriente Médio.
A sra. vive há muitos anos entre a comunidade palestina na fronteira entre o Uruguai e o Brasil. Que impressões ficaram dessa convivência?
Há mais de 20 anos, morei na fronteira, morando com uma comunidade árabe palestina e aprendi a respeitá-la. Durante anos contribuíram com a sua cultura, os seus costumes, sofreram o exílio, abandonaram a sua pátria com dores, se separaram das suas famílias e, no entanto, contribuíram para a comunidade com o seu trabalho, sem abandonar a sua fé. Muitos de nós acompanhamos suas reclamações justas e testemunhamos sua dor sempre que chegam notícias do que está acontecendo em suas terras.
Qual é a sua posição sobre a causa da Palestina?
Acho que a causa palestina tem vários componentes. Primeiro, é uma causa humanitária de direitos humanos. Os palestinos têm o direito de viver em seu território com dignidade. Existem muitas declarações, acordos, que estão desde 1947, nas Nações Unidas, Oslo, 1993, enfim, muitas cartas que não são respeitadas. Rejeito todo tipo de violência, mas entendo que muitas vezes é o único caminho diante da agressão.
Devemos condenar a expulsão, a alienação de bens e as perdas humanas de que o palestino as pessoas são vitimadas.
E a relação do Uruguai hoje com o Oriente Médio?
Hoje meu país vive uma crise que é resultado da pandemia e de más decisões políticas. O governo tem trilhado o caminho de reduzir o apoio social aos mais pobres, os salários são baixos e as necessidades básicas aumentaram.
Mas historicamente, a política externa do meu país tem promovido o diálogo entre os países em conflito e desejo que continue. As pessoas devem dialogar, e é a política de alto nível que nos obriga a fazê-lo. É ético.
Existem também motivações políticas, econômicas e até de guerra que fazem do Oriente Médio uma espécie de motim de guerra para as grandes potências. Desejo que a paz no Oriente Médio deixe de ser um anseio e se torne realidade.
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Como você prevê o futuro político da América Latina?
Acho que a política latino-americana é sempre dependente das grandes potências, principalmente no plano econômico. No entanto, nossos povos buscam uma forma de se associar a seus próprios organismos como o Mercosul, embora sempre sob a vigilância das potências. Porém, a união dos países do hemisfério sul (os que eram chamados de terceiro mundo) é necessária. Vivemos em um continente rico mas empobrecido, saqueado e com muitas injustiças.
Você participou pela primeira vez dos “parlamentares por Al-Quds”, qual a sua impressão desta conferência?
Pela primeira vez, participei deste ciclo de conferências. Significou um grande aprendizado para mim. Mais de 100 parlamentares da Ásia, África, Oriente Médio e América Latina, unidos para analisar e fazer o mundo saber o que está acontecendo na Palestina e mostrar ao mundo o que os meios de comunicação de massa escondem. O mundo deve conhecer a realidade, todos aqui só anseiam pela paz. Não sou palestina, mas conheço o sofrimento do povo palestino, é empatia e é caso de direitos humanos.
Um poeta do meu país disse um dia que “Não há nada mais rápido do que um povo fazendo história”, desejo que os palestinos possam viver sua fé livremente, na terra de seus ancestrais.
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O que significa para você o encontro de parlamentares do mundo do em ligação com a causa palestina?
A conferência foi muito boa, mostrou ao mundo que queremos paz, que rejeitamos a injustiça e qualquer interferência de um povo sobre o outro.
Conheci pessoas de todo o mundo, convencidas de que devemos encorajar nossos respectivos governos a cooperar com o diálogo e a rejeitar a violência a que está sujeito o povo palestino. Por não mais exílio, não mais morte, não mais bloqueio!
Os palestinos devem saber que não somos fracos, somos fortes e temos muitos
contribuições para contribuir para a paz do mundo. Se a Palestina for livre, nós também seremos livres.
Por fim, como recomendação, humildemente, sugiro que mais mulheres sejam convidadas a participar. Conheço a cultura delas, conheço a dor das mães, filhas, avós, e elas têm muito a contribuir com a política e com o mundo.