Eles nasceram em diferentes porções de terra do planeta , cresceram em religiões e culturas diferentes, falam idiomas muito diferentes, mas se encontraram no Oriente Médio, na capital da Turquia, no início de dezembro, por um amor em comum: o amor por Jerusalém, na Palestina, a cidade sagrada para as três maiores religiões do mundo, mas que tem sofrido bombardeios, ataques de extremistas religiosos, destruição de lugares sagrados para dois bilhões de pessoas e um processo de ” israelização” condenado pelo mundo todo.
O encontro, que emocionou o mundo, recebeu parlamentares da África, de toda a América Latina, da Europa e de países asiáticos e foi organizado pela League of Parliamentarians for Al-Quds, a Liga de Parlamentares por Jerusalém.
A cidade, cujo nome em árabe, Al Quds, significa “A Sagrada ” , já foi sitiada 23 vezes, atacada 52 vezes e capturada mais de 40 vezes ao longo de sua história milenar – a cidade que é absolutamente árabe há mais de 1500 anos, cujos habitantes muçulmanos, cristãos e judeus falaram árabe como língua oficial por mais de 1000 anos, a cidade cujo símbolo mais reconhecido pelo mundo é o rosto da mesquita de Al Aqsa e sua cúpula dourada tornou- patrimônio da humanidade em 1981 e que desde 1982 é considerada um ” patrimônio em risco permanente de destruição ”
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A ONU tem alertado o mundo para esse risco e também para o risco de destruição da possibilidade de reconstrução da paz na cidade em que, durante mais de dez séculos cristãos, judeus e muçulmanos conviveram em paz, fraternidade ou com tolerância mútua , antes da criação do estado de Israel em 1948.
Durante a abertura do evento, Hamid Al Amar, um parlamentar iemenita que preside a Liga nesse momento,, lembrou que Jerusalém será” sempre uma linha vermelha para todos , não permitiremos que sua história ou seu presente sejam destruídos. Essa conferência deve institucionalizar nossos esforços pela Palestina e para servir à Causa Palestina e à luta do povo palestino”
O Brasil e toda a América Latina estiveram representados por dezenas de mulheres e homens que têm dado voz à dor dos palestinos e à luta pela Palestina há vários anos.
Estiveram presentes à Conferência em defesa de Jerusalém o presidente da associação dos “Parlamentares por Al-Quds” da América Latina” , Ahmad Mourad; a deputada no Parlamento do Mercosul, Julia Periê; a Ministra da Justiça da Bolívia, Virginia Valasco; a senadora uruguaia Sandra Lazo; o congressista chileno Sergio Gahona; deputada mexicana Julieta Ramirez , a deputada guatemalteca Andrea Villagren; e a deputada brasileira, Perpétua Almeida.
A imagem daquelas mulheres e homens vindos de todo o planeta, pessoas de origem indígena, de origem asiática ou arabe, de lugares que iam do Brasil a Kuala Lampur, todos de mãos dadas por Jerusalém tocou profundamente minha alma !
Jerusalém clama por todas as nossas vozes.
A cdade onde o general muçulmano Saladino protegeu todos os cristãos e sobretudo as mulheres cristãs durante as Cruzadas, a cidade dourada que meus olhos viram por três vezes e jamais puderam esquecer, a cidade onde milhares de cristãos, judeus e muçulmanos compartilharam alegrias, sonhos e esperanças por séculos até a chegada do sionismo e de homens que sequestram as religiões para assentar ódio e morte, hoje precisa de nós.
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Israel se intitula hoje um ” estado judeu” criando um sistema de apartheid para milhões de cristãos e muçulmanos que vivem ali, um sistema de supremacia judaica, onde há rodovias apenas para judeus, e onde europeus judeus podem destruir impunemente as casas de palestinos cristãos e muçulmanos, cujas famílias vivem em Jerusalém há séculos.
A situação se torna a cada dia mais violenta. A Inglaterra transmitiu para a Jordânia a administração de Jerusalém, um acordo que permaneceu intacto até 1967, quando, durante a Guerra dos Seis Dias, Israel tomou ilegalmente o controle de Jerusalém, num ato de guerra jamais reconhecido pelas leis internacionais.
Os conflitos aumentam a cada dia e o processo de apartheid e limpeza étnica dos palestinos de toda a região se torna cada vez mais violento e incontrolável.
Fora das muralhas da parte conhecida como “cidade velha” em Jerusalém, o bairro de Sheikh Jarrah passou a ser um alvo de sionistas supremacistas judeus estrangeiros, que muitas vezes chegam dos Estados Unidos ou da Europa sem nenhuma ligação histórica com Jerusalém e passam a agredir, ameaçar famílias palestinas que vivem ali há décadas e a transformar suas suas em um inferno de Dante.
Muitas famílias palestinas estão sendo expulsas de suas casas com a ajuda de leis israelenses draconianas, que não seriam aceitas em nenhum lugar do mundo!
As cenas de agressão à justiça, invasão violenta por parte de extremistas judeus, que eu testemunhei ali em 2017 ficarão tatuadas em minha alma..
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