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‘Inteligência equivocada’ matou milhares de civis no exterior, revelam documentos dos EUA

Forças iraquianas durante confrontos em Ramadi, 27 de dezembro de 2015 [STR/AFP via Getty Images]

Uma série de documentos militares, até então confidenciais, obtidos pelo New York Times, demonstraram que informações “equivocadas” resultaram na morte de milhares de civis por ataques aéreos dos Estados Unidos na região do Oriente Médio.

São mais de 1.300 relatórios do Departamento de Defesa, segundo os quais ataques conduzidos por veículos aéreos não-tripulados (drones) causaram mais baixas do que previamente informado, como resultado de “inteligência profundamente equivocada”.

Os documentos foram obtidos após um pedido por transparência e liberdade de informação.

A reportagem revelou que “nenhum único registro fornecido inclui descobertas de delitos ou ações disciplinares”, em resposta às baixas civis. Além disso, o número de mortes foi “drasticamente subnotificado”, ao menos na escala de centenas.

Exemplos incluem um ataque contra Ramadi, no Iraque, em novembro de 2015, no qual foi “descoberta” uma suposta posição do grupo terrorista Estado Islâmico (Daesh) após ser avistado um homem com um “objeto pesado não-identificado”.

Uma reavaliação do caso constatou posteriormente que o “objeto” em questão era uma criança — inevitavelmente morta pelo ataque aéreo.

Em 19 de julho de 2016, as Forças Especiais dos Estados Unidos alvejaram também áreas supostamente mantidas pelo Daesh. A princípio, foi reportada a morte de 85 militantes; mais tarde, foi confirmado que se tratavam de 120 fazendeiros e aldeões.

Segundo as informações, tais incidentes decorreram de registos de vigilância inadequados ou de má qualidade, que resultaram em bombardeios de baixa precisão.

Vídeos de cima, por exemplo, não mostram pessoas dentro dos edifícios ou sob coberturas naturais ou sintéticas. Além disso, pessoas vistas correndo em direção a um local recentemente bombardeado eram tomadas como combatentes pelos soldados da ocupação.

Não obstante: “Homens em motocicletas, em formação característica de um ataque iminente, eram apenas isso: homens em motocicletas”.

O exército seguiu os protocolos rigorosos de seu regulamento, conforme os relatos, mas suas ações foram reiteradamente maculadas pela interpretação dos dados.

O capitão Bill Urban, porta-voz do Comando Central dos Estados Unidos, tentou defender seu departamento: “Mesmo com a melhor tecnologia do mundo, erros acontecem, com base em informações incompletas ou má interpretação dos dados disponíveis”.

“Tentamos aprender com todos esses erros”, acrescentou.

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Os ataques são considerados com cautela, alegou Urban, porém: “Em muitas situações de combate, onde enfrentamos ameaça concreta e não temos tempo, as incertezas da guerra podem nos levar a decisões que tragicamente resultam em baixas civis”.

Urban insistiu ainda: “Trabalhamos diligentemente para evitar tais danos. Investigamos cada incidente convincente. E lamentamos cada perda de vida inocente”.

Os documentos e as mortes, no entanto, somam-se às numerosas baixas e aos abusos registrados e contradizem a suposta segurança e eficiência dos drones militares que se disseminaram desde o governo do ex-presidente Barack Obama.

Promessas de transparência e justiça tampouco foram cumpridas.

Estima-se que, desde os atentados de 11 de setembro e a subsequente “guerra ao terror”, entre 22 mil e 48 mil civis foram mortos por ataques aéreos dos Estados Unidos.

Sobreviventes mutilados pelos bombardeios e as famílias das vítimas receberam promessas de indenização financeira, ao longo dos anos; com pouquíssimos resultados obtidos.

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