No Chile, onde reside a maior população de palestinos na América Latina, o candidato de esquerda Gabriel Boric venceu as eleições presidenciais após derrotar seu adversário de extrema-direita José Antonio Kast por dez pontos percentuais. A vitória de Boric, de 35 anos, representa uma nova vida ao campo progressista no Chile. O presidente eleito é conhecido como um apoiador comprometido da causa palestina e dos direitos humanos, continuamente violados nos territórios ocupados. Mais de uma vez, Boric descreveu Israel como um estado “genocida” e “assassino”, incluindo durante uma entrevista de campanha: “Não importa quanto poder tem um país, nossa política externa tem de defender os direitos humanos a todo custo, independente do governo”, declarou Boric à televisão local.
Sua vitória instigou comemorações entre os palestinos na diáspora. A Comunidade Palestina no Chile apressou-se para parabenizá-lo por meio de uma carta assinada por seu presidente, Maurice Khamis Massu. “Em nome da Comunidade Palestina no Chile, desejamos o melhor em seu novo governo. De agora em diante, colocamos nosso compromisso nacional a seu dispor, para continuarmos a colaborar com o progresso, o desenvolvimento, a justiça e a liberdade”, declarou o documento.
Massu também agradeceu o presidente eleito por seu firme apoio à Palestina histórica. “Gostaríamos de agradecê-lo por sua constante solidariedade ao povo palestino e por sua promessa de sancionar a importação de bens e serviços oriundos dos assentamentos nos territórios ocupados, além de defender os direitos humanos na terra de nossos ancestrais”.
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Em entrevista ao MEMO, observou Massu: “O presidente eleito sempre defendeu os direitos humanos em todos os cantos do mundo, sobretudo os direitos humanos em nossa terra ocupada. Durante sua visita em setembro a nossa comunidade palestina, deixou seu compromisso em manter o reconhecimento do Estado da Palestina e respeitar e aplicar as leis internacionais. Além disso, confirmou seu apoio em instituir sanções sobre serviços e produtos que provêm dos assentamentos nos territórios ocupados”.
Boric sempre apoiou o boicote de produtos produzidos nos assentamentos ilegais israelenses. Em julho de 2020, o Senado do Chile aprovou uma resolução para que o governo promulgasse uma legislação para banir todos os bens fabricados nos assentamentos; proibisse empresas envolvidas com a ocupação israelense de beneficiar-se de qualquer acordo assinado pelo país; e aplicasse diretrizes de turismo adequadas para Israel e Palestina, de modo a não utilizar imagens de Jerusalém Oriental e Belém, entre outras cidades palestinas, como parte do estado israelense. Boric estava entre um dos apoiadores da resolução.
“Esperamos que esse progresso seja devidamente aprovado no futuro, em respeito ao povo palestino, sobretudo a questão do boicote e das sanções a produtos e serviços oriundos dos assentamentos nos territórios ocupados, além da restauração do Chile em seu papel nas organizações internacionais para encorajar investigações e condenar a violação dos direitos palestinos por parte de Israel”, acrescentou Massu.
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A vitória presidencial de Boric no Chile foi recebida como má notícia em Israel e criou certa apreensão entre os judeus sionistas do país. “Boric votou a favor de toda legislação contrária a Israel, chamou o estado de assassino em rede nacional e apoia consistentemente o boicote a Israel”, insistiu Gabriel Colodro, presidente da Comunidade Chilena de Israel, ao jornal Israel Hayom. Boric sempre foi um crítico loquaz de Israel e publicamente condenou o estado pela expropriação de terras palestinas. Dois anos atrás, a Comunidade Judaica no Chile, grupo de lobby que alega buscar fortalecer os laços entre ambos os países, presenteou o líder estudantil com um tablete de mel, presente tradicional do feriado judaico de Rosh Hashana. Boric respondeu no Twitter: “A Comunidade Judaica no Chile me enviou um tablete de mel para reafirmar seu compromisso a uma sociedade mais inclusiva, solidária e respeitosa. Agradeço o gesto, mas poderiam começar ao pedir que Israel devolva os territórios palestinos que ocupa ilegalmente”.
O Chile é lar de meio milhão de imigrantes palestinos. A vitória de Gabriel Boric é considerada uma vitória para a causa e a comunidade palestina no país. Por outro lado, o presidente eleito enfrenta agora uma tarefa árdua, pois seu novo governo pode construir os alicerces para o futuro dos países vizinhos. Fica a pergunta: o presidente manterá sua postura em relação à causa palestina agora que chegou ao poder, como fez nos últimos anos?
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