O dia três de janeiro marca uma data que nos convida, por um lado, a refletir sobre a luta contra o terrorismo e, por outro, a continuar lutando por justiça, liberdade e soberania. Isso porque, foi nessa data, em 2020, que uma ordem direta do presidente dos EUA, Donald Trump, se concretizou num ataque terrorista que martirizou o comandante da Força Al Quds, da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã (IRGC), General Qasem Soleimani, aos 63 anos, e o comandante das Forças de Mobilização Popular iraquiana, Abu Mahdi Al-Muhandis, aos 66 anos.
Os EUA alegaram, como motivo para o assassinato de Soleimani, o seu apoio às manifestações que ocorreram, no dia 27 de dezembro de 2019, em frente à embaixada norte-americana em Bagdá e a falsa alegação de invasão (que não ocorreu), que teria resultado em morte e ferimento de cidadãos americanos e iraquianos. No entanto, sabemos que os motivos para o assassinato são outros. Eles estão relacionados ao papel de Soleimani nas vitórias contra os EUA no Oriente Médio e na perda da condição de únicos players da região, bem como ao aumento do protagonismo da Rússia e China, tendo o Irã como centro dessa articulação antiterrorista.
Sabe-se, ainda, que ações estratégicas do General Soleimani contribuíram para cortar o fluxo de armas de EUA e Israel não apenas para o “Estado Islâmico” e outros grupos terroristas que atuam no Oriente Médio, mas também para outros compradores regionais. Os EUA, como maior fabricante de armas do mundo e para o sucesso dos seus negócios no tráfico de armas, precisam da atuação dos grupos terroristas. Com as seguidas derrotas dos terroristas do “Estado islâmico” na Síria e no Iraque comandadas por Soleiman e Al-Muhandis, e a consequente queda nos negócios de armas, os EUA decidiram assassinar o General, que era o símbolo da resistência contra esses bandos armados.
O assassinato de Soleimani e Al-Muhandis, fora de uma situação de guerra e em território estrangeiro, mais do que uma violação da soberania iraquiana, foi um ato explícito de terrorismo de estado e uma violação das convenções e do Direito Internacional. Essa ação foi mais uma tentativa inútil dos EUA e de seus sócios de frear o “eixo da resistência” que envolve o Irã, a Síria, o Hezbollah libanês, as Forças de Mobilização Popular do Iraque, os Houthis do Iêmen, o Hamas, a Jihad Islâmica e a Frente Popular palestinas, a Frente Polisario do Saara Ocidental, entre outros movimentos.
Soleiman e Al-Muhandis não foram os únicos nem serão os últimos. Que sejam lembrados os nomes de cientistas martirizados em ataques terroristas, como Mohsen Fakhrizadeh, Massoud Ali-Mohammadi, Fereydoun Abbasi-Davani, Majid Shahriyari, Darioush Rezai, Mostafa Ahamdi-Roshan, entre outros. Esses são assassinatos que refletem o espírito criminoso que domina a estrutura do Estado norte-americano e de Israel. As ilegalidades dos EUA constituem cobertura e incentivo para os crimes cometidos pela ocupação israelense contra o povo palestino nos territórios ocupados e no exterior.
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O General Soleiman teve um papel relevante na vitoriosa estratégia do Hezbollah que expulsou de maneira humilhante as forças do invasor sionista do Líbano em 2006. Ele deu importante estímulo e suporte ao levante dos Houthis do Iêmen contra o regime saudita. Outras frentes em que ele teve papel central foram na derrota do “Estado Islâmico” na Síria, bem como na criação, no treinamento e nas ações das milícias de Al-Hashd Al-Sha’abi, dirigidas por Al-Muhandis, responsáveis pelo colapso dos grupos terroristas na Síria e no Iraque.
O martírio de Soleimani e Al-Muhandis mostrou ao mundo que a revolução está viva e será vitoriosa. Além disso, os inimigos da nação iraniana ficaram humilhados diante da grandeza do General assassinado, que se transformou no mártir de Jerusalém por ser uma figura-chave na estratégia vitoriosa de enfrentamento ao terrorismo de EUA, Israel, Arábia Saudita e seus aliados no Oriente Médio e na Eurásia.
Soleimani nasceu de uma família de camponeses pobres na região de Qermã, em 11 de março de 1957. Iniciou sua carreira militar com sua entrada no Corpo dos Guardiões da Revolução Islâmica, em 1979. Nos anos de 1980, foi designado comandante de 41ª Divisão do exército iraniano durante a guerra Irã-Iraque. Sua ascensão ao comando das Forças Quds iranianas de ações no exterior se deu em 1997. Ele foi promovido ao posto de Major-General pelo Líder Supremo da Revolução Islâmica, Imam Ali Khamenei, em 24 de janeiro de 2011, posto em que permaneceu até o seu martírio.
Diferentemente do que se avalia, a importância de Soleimani no enfrentamento ao terrorismo não era apenas militar. Ele desempenhou relevante papel político, como quando, em 2015, convenceu a Rússia a entrar, de forma mais efetiva, na guerra da Síria, na aliança trilateral entre Rússia, China e Irã para enfrentar os bandos terroristas no Oriente Médio, bem como na realização de exercícios militares marítimos conjuntos no Mar de Omã e no Oceano Índico, determinantes para quebrar o monopólio dos EUA nos mares da região.
Durante os funerais de Soleimani em Teerã, o Imam Ali Khamanei, Líder Supremo da Revolução, declarou que aqueles que planejaram e executaram o assassinato do general certamente pagarão o preço, pois a vingança ocorrerá inevitavelmente quando as condições permitirem. Para ele, “O sapato de Soleimani vale mais do que a cabeça de Trump”. Além disso, o líder apontou que os funerais dos mártires com a presença de milhões de pessoas, no Irã e no Iraque, foram um tapa severo para os americanos, mas o tapa mais duro será a eliminação da arrogante presença dos EUA da região.
Soleimani se sacrificou pela causa mais importante da humanidade atualmente, que é a justa luta pela libertação da palestina, com o foco em recuperar as terras árabes e palestinas e tirar a sagrada mesquita de Al-Aqsa do cerco e das tentativas de destruição por parte do estado de supremacia judaica que se apossou da Palestina desde 1948.
O ataque terrorista norte-americano que martirizou Soleimani, Al-Muhandis e vários outros mártires iranianos e iraquianos que os acompanhavam reflete o sentido criminoso que domina a mentalidade dos líderes dos EUA, Israel e Arábia Saudita. Essa ação constitui um salvo-conduto para todos os crimes cometidos pela ocupação israelense contra o povo palestino nos territórios ocupados e no exterior.
Esse crime desse consórcio terrorista, liderado pelos EUA, nem de longe representou uma vitória sobre a luta de resistência contra o terrorismo por ele disseminado. EUA, Israel e Arábia Saudita é que foram os derrotados, porque a luta de resistência segue até a vitória final, como um direito legal garantido por leis e convenções internacionais e reconhecido pela Carta das Nações Unidas.
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