Os acontecimentos políticos do último mês aprofundaram graves receios sobre a deterioração das condições na Tunísia, observou nesta terça-feira (11) Liz Throssell, porta-voz do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
Em nota, Throssel constatou que Noureddine Bhiri, parlamentar e ex-Ministro da Justiça, foi detido em 31 de dezembro, sem sequer mandado ou justificativa.
“[Bhiri] foi então levado a uma série de localidades clandestinas e, por horas e horas, sua família e seus advogados não souberam de seu paradeiro”, reiterou Throssel. Desde então, foi transferido à prisão domiciliar; em protesto, deu início a uma greve de fome.
Sua saúde se debilitou e Bhiri foi internado em um hospital sob segurança oficial.
Throssel destacou também a prisão de Fathi al-Balady, ex-funcionário do Ministério do Interior, apreendido no mesmo dia e em circunstâncias similares.
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“Ambos os incidentes ressoam práticas que não vimos desde a presidência de Zine el Abidine Ben Ali e incitam sérias dúvidas sobre sequestro, desaparecimento forçado e detenção arbitrária [na Tunísia]”, acrescentou a representante das Nações Unidas.
“Instamos as autoridades a libertar imediatamente ou indiciar devidamente ambos os prisioneiros, conforme padrões de procedimento criminal”, reivindicou Throssel.
“As ações das Forças de Segurança Interna da Tunísia são fonte de preocupação há tempos, comunicada e debatida com as autoridades ao longo da última década”, prosseguiu a nota. “Tememos a repressão da dissidência, incluindo por meio do uso inadequado da legislação de contraterrorismo, além do uso cada vez mais frequente de cortes militares para julgar civis, o que traz apreensões sobre a gestão equitativa, imparcial e independente da justiça”.
Em 25 de julho, o presidente tunisiano Kais Saied suspendeu o parlamento e assumiu poderes executivos quase absolutos. Em seguida, prometeu reformar o judiciário civil.
A maioria dos tunisianos, incluindo os principais partidos, denunciam golpe de estado.