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Retorno do italiano como ‘idioma colonial’ causa indignação na Somália

Arco do Triunfo de Umberto di Savoia, construído no período colonial italiano, na principal praça de Mogadishu, capital da Somália, 13 de fevereiro de 2015 [Alessandro Rota/Getty Images]

Uma rádio estatal somali, que compartilha o nome com a capital do país, Mogadishu, começou a transmitir um programa em italiano neste mês, sob novo acordo com Roma, o que instigou a indignação da comunidade local e de seus cidadãos na diáspora.

O estado italiano tenta competir pela influência na África com outras ex-metrópoles coloniais, além de Estados Unidos, China e Índia, na busca por mercados e recursos no continente, sobretudo na região do Chifre da África, onde situa-se a Somália.

Segundo Abduwali Garad, pesquisador e professor da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, a Itália deseja restabelecer sua influência no país — esforços denunciados como tentativa de restaurar seu domínio colonial sobre a região.

Garad argumentou que, como parte desses esforços, Roma contactou a Universidade Nacional da Somália e ofereceu bolsas de estudo, com o objetivo de reavaliar a grade curricular.

Além disso, o governo italiano supostamente tentou exonerar a diretoria do Hospital Demartini, em Mogadishu, construído durante o período colonial.

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“Vale mencionar que os italianos também abordaram alguns políticos locais para possibilitar o retorno de sua influência e sua agenda ao território somali, ao lhes prometer recursos e propinas, sobretudo durante as eleições parlamentares”, reafirmou Garad.

Salah Sheik Osman, ex-Ministro de Reconstrução e Obras Públicas da Somália e atual presidente do Partido Justiça e Unidade (TIIR), insistiu que não faz sentido permitir à rádio nacional transmitir peças em italiano, dada a “brutalidade” do período colonial.

Segundo Osman, somente pessoas com mais de 60 a 65 anos compreendem o idioma, cujo uso entrou em declínio há mais de três décadas. “Mais de 75% da população é jovem e não fala italiano e não quer o retorno do idioma colonial ao nosso país”, reiterou.

Ao colonizar a Somália, o regime italiano priorizou extinguir o sistema de governança tradicional do país. Osman destacou que a metrópole desmantelou a economia nacional, assim como as monarquias e cidades-estados do Império Geledi, então radicado em Baixo Shabelle.

“[A Itália] destruiu o sistema somali tão culturalmente rico e destituiu nossos reinos, quando então começou a brutalizar e colonizar a população geral”, enfatizou o político africano.

“Milhares de pessoas forçadas a trabalhar para os italianos morreram de doenças, exaustão, fome ou agressões físicas, por exemplo, na aldeia de Kali Asayle, em Baixo Shabelle, onde milhares de operários pereceram ao escavar um canal”, acrescentou.

Osman mencionou também que, durante a resistência do Império Geledi contra a ocupação italiana, entre o fim do século XIX e o início do século XX, os otomanos — predecessores da moderna República da Turquia — auxiliaram as tropas anticoloniais ao fornecer armas.

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