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Ataque aéreo deixa mortos e feridos em um centro de detenção no Iêmen

21 de janeiro de 2022, às 16h20

Civis inspecionam um edifício destruído por um ataque aéreo executado por forças da coalizão militar saudita, no Iêmen [Mohammed Hamoud/Agência Anadolu]

Mais de cem pessoas morreram ou foram feridas por um ataque aéreo executado nesta sexta-feira (21) contra um centro de detenção no território iemenita, após bombardeios noturnos que ratificaram a recente escalada no país.

As informações foram divulgadas pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).

“Há mais de cem mortos e feridos … os números continuam a subir”, destacou Basheer Omar, porta-voz da entidade no país assolado pela guerra.

Um vídeo divulgado pelo movimento houthi registrou o trabalho de resgate para retirar corpos dos escombros, então empilhados na via pública.

Saada, no noroeste do Iêmen, é um dos principais redutos dos rebeldes iemenitas.

A coalizão saudita intensificou seus bombardeios contra alvos supostamente houthis, após o grupo iemenita conduzir um ataque sem precedentes contra os Emirados Árabes Unidos, na segunda-feira (17), além de disparos transfronteiriços contra cidades sauditas.

O incidente foi descrito como o pior ataque estrangeiro desde 8 de outubro de 2016, quando a coalizão saudita bombardeou um funeral comunitário na região de Sanaa.

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Segundo um correspondente da Reuters, muitos dos mortos eram refugiados africanos.

Mais ao sul, em Hodeidah, outro vídeo registrou corpos soterrados e sobreviventes atordoados, após um bombardeio saudita contra a infraestrutura local de telecomunicações. O Iêmen ficou então sem sinal de internet, segundo observadores externos.

A ong Save the Children confirmou em nota que três crianças e mais de 60 adultos faleceram devido aos ataques aéreos desta sexta-feira; contudo, sem maiores detalhes.

A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) constatou que os hospitais de Saada receberam cerca de 200 feridos devido à ofensiva contra o centro de detenção. “Estão todos tão sobrecarregados que não podem receber nenhum paciente”, reiterou o comunicado.

“Ainda há muitos corpos no local do ataque e muitos desaparecidos”, declarou Ahmed Mahat, chefe do MSF no território iemenita. “É impossível sabermos quantas pessoas foram mortas; certamente parece um ato hediondo de violência”, acrescentou.

Alertas de represália

A Arábia Saudita lidera uma coalizão militar com apoio das potências ocidentais, incumbida de intervir no Iêmen desde 2015, para restabelecer o governo aliado de Abd Rabbuh Mansour Hadi, destituído no ano anterior por rebeldes houthis — por sua vez, alinhados a Teerã.

Anwar Gargash, porta-voz emiradense, reafirmou o direito de “autodefesa” de seu país.

“Os Emirados têm o direito legal e moral de proteger suas terras, sua população e sua soberania e exercerá seu direito à autodefesa para impedir atentados terroristas do grupo houthi”, insistiu Gargash a Hans Grundberg, enviado especial dos Estados Unidos.

A guerra no Iêmen representa uma catástrofe para milhões de pessoas, expulsas de suas casas e à margem da fome. A Organização das Nações Unidas (ONU) descreve a situação no país como a pior crise humanitária do mundo.

São estimadas 377 mil mortes desde o início do conflito até 2021, tanto direta quanto indiretamente — isto é, por ação das armas ou mesmo da fome e de doenças.

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Publicado originalmente em Middle East Eye