Cidadãos egípcios correram aos bancos após rumores de que o Banco Central voltará a impor a flutuação da moeda nacional. Em 2016, tais medidas foram adotadas sob pretexto de reformas em troca de um empréstimo de US$12 bilhões do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Como parte do programa, o governo deve desvalorizar a libra e desatrelar seu valor do dólar. Entretanto, na ocasião anterior, a medida agravou as dificuldades econômicas da população, dado que a desvalorização da moeda implicou em um surto inflacionário.
Segundo reportagem da rede Al-Araby Al-Jadeed, neste fim de semana, houve discussões entre clientes e funcionários do Banco Internacional Comercial, no centro da capital, devido a empecilhos para realizar saques e transferências nos caixas eletrônicos.
O Banco Central instituiu limite diário de 50 mil libras egípcias (US$3.175) na boca do caixa e 70 mil libras egípcias (US$4.445) nos caixas eletrônicos. Desde 13 de janeiro, clientes têm problemas para receber transferências, pois os serviços digitais permanecem desatualizados.
LEIA: Primeira produção em árabe do Netflix é perseguida no Egito por ‘ofender a sociedade’
Após rumores de uma nova crise circularem na última semana, o governo egípcio emitiu instruções à imprensa para não reportar as filas nas agências bancárias, além de censurar notícias sobre a flutuação da moeda, e enfatizou “estabilidade”.
Todavia, o Egito vivencia uma crise econômica evidente, com carestia em produtos essenciais, como alimentos e combustíveis, sobretudo após cortes em subsídios públicos.
Recursos estrangeiros, incluindo turismo e investimentos, sofrem queda desde 2011, quando a população depôs o longevo ditador Hosni Mubarak. A crise agravou-se em 2013, quando Abdel Fattah el-Sisi assumiu o poder via golpe militar; a pandemia de coronavírus elevou o problema.
Cerca de 60% da população egípcia é considerada pobre ou vulnerável.
O presidente e general, no entanto, tenta omitir temores ao conclamar “paciência”. Seus críticos destacam como a corrupção de seu governo piorou a situação econômica. Há dois anos, os cidadãos voltaram a tomar as ruas, sob forte repressão, para pedir sua renúncia.
As péssimas condições de vida, incluindo a incapacidade de algumas famílias de sequer comprar pão, foi um dos fatores que culminaram na revolução popular de janeiro de 2011.