A decisão de contemplar o regime do general Abdel Fattah el-Sisi com a copresidência do Fórum Global de Contraterrorismo (FGCT) foi veementemente condenada por Maha Azzam, presidente do Conselho Revolucionário do Egito, órgão da oposição radicado na diáspora.
Em carta encaminhada a Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, Azzam fez um apelo para que a decisão seja reconsiderada, devido ao histórico hediondo de direitos humanos do regime militar instituído no Cairo.
Egito e União Europeia compartilharão a liderança da entidade, bastante influente na formulação de políticas de combate ao terrorismo.
Em 11 de janeiro, representantes da França, que atualmente detém a presidência rotativa do Conselho da União Europeia, formalizaram a proposta.
Ao denunciar a decisão, Azzam reafirmou que o bloco demonstrou “notável insensibilidade”, ao “subverter cinicamente os valores da União Europeia e avalizar violações de direitos humanos e do estado de direito, incluindo tortura de dissidentes e o enraigamento do regime ditatorial, em detrimento da democracia sob considerações geopolíticas ou comerciais”.
Azzam argumentou que recompensar o Cairo com uma posição de tamanho prestígio equivale a legitimar a repressão brutal ordenada por Sisi contra qualquer oposição política.
A recente decisão ignora ainda uma condenação pública das violações de direitos humanos no Egito, por meio de uma declaração conjunta dos estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgada em março do último ano, reafirmou Azzam.
O histórico de direitos humanos do país norte-africano — “após a tomada do poder pela junta militar em 2013” — é documentado em detalhes pela ONU, pela União Europeia e por ongs de direitos humanos, incluindo o Human Rights Watch e a Anistia Internacional, acrescentou.
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As denúncias incluem provas de repressão à dissidência, encarceramento de mais de 60 mil prisioneiros políticos, tortura sistemática e execuções extrajudiciais de eventuais opositores.
“É difícil crer que a União Europeia sequer considera colocar um dos regimes mais opressivos do mundo no comando deste Fórum de Contraterrorismo, medida que deve somente consolidar as ações repressivas no país”, argumentou a proeminente líder oposicionista.
Azzam questionou também se a Europa considera recompensar a junta militar de Myanmar.
Azzam reafirmou ainda que a decisão é “essencialmente perigosa para a União Europeia” de maneira a “deteriorar a confiança entre cidadãos do Oriente Médio de que o bloco preserve seus valores para além de suas fronteiras; portanto, ao debilitar os próprios valores sobre os quais foi fundada a organização”.
“Além disso, um regime incompetente com o grau de opressão e corrupção que existe no Egito representa um fracasso inexorável”, prosseguiu Azzam. “Logo, é do interesse da Europa apoiar regimes democráticos que possam conceber estabilidade de verdade”.
Ao reivindicar que a decisão seja revogada, concluiu Azzam: “Faço um apelo em termos morais e práticos para reconsiderar a medida. Razões geopolíticas e comerciais podem ser sedutoras, mas não podem jamais custar os próprios princípios da Declaração da Europa, muito menos a vida e o futuro de cem milhões de egípcios sob violenta opressão”.
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