‘O Egito é a república do medo’: Vídeos mostram tortura na prisão de Katameya

Dois novos vídeos que registram a tortura de detentos na prisão de Katameya, no Egito, foram vazados ao MEMO por Aly Hussin Mahdy, eloquente refugiado asilado em Chicago.

Em um dos registros, um detento está vendado e com o rosto no chão, suas mãos atadas às pernas, atrás das costas, enquanto outros têm machucados nas pernas e costas.

Acredita-se que o vídeo foi filmado em 2021 por outros detentos dentro da penitenciária e então enviado a Aly em novembro.

No último ano, a organização de direitos humanos Egyptian Front divulgou um relatório sobre Katameya, no qual descreveu as péssimas condições das celas, incluindo falta de ventilação. Segundo o documento, há superlotação e esgoto exposto nas instalações.

Na segunda-feira, o jornal britânico The Guardian divulgou vídeos distintos de prisioneiros em uma delegacia de polícia no bairro de Salam, na cidade do Cairo, pendurados pelos braços por uma barra de metal.

Outro vídeo, que o periódico ainda não publicou, mostra detentos com feridas abertas em suas cabeças e hematomas no peito, infringidos por guardas que os agrediram com bastões.

Em 2017, o Human Rights Watch constatou que a tortura é uma “prática sistemática no Egito”, sobretudo contra eventuais dissidentes, e que a “epidemia de tortura no Egito constitui um crime contra a humanidade”.

Um ano depois, a fundação Carnegie observou que o aumento no uso de tortura por oficiais é sinal de “impunidade cada vez maior entre o aparato de segurança, falta de credibilidade do judiciário e colapso do estado de direito”.

O governo egípcio também torturou menores e ameaçou outros com tortura. Haitham Rahim, que tinha 14 anos quando foi preso pelas autoridades, relatou ao MEMO:

Eu vi uma cena que eu só havia visto em filmes de terror. Eu vi detentos enfileirados de ambos os lados com sinais de tortura em todo o corpo, alguns completamente nus.

Muitos prisioneiros são mortos sob tortura durante supostos interrogatórios, incluindo o caso do comerciante Islam Al-Ostraly, torturado até a morte em 2020, após ser preso por recusar-se a pagar uma propina.

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Em 2018, policiais espancaram até a morte o jovem Afroto, de 22 anos, enquanto estava em custódia na delegacia de Moqattam.

Manifestantes reuniram-se para denunciar a brutalidade policial após ambas as mortes.

O vídeo de dentro de Katameya foi vazado às vésperas de 28 de Janeiro, ou Sexta-feira de Fúria, data icônica que antecedeu em três dias o início da Revolução Egípcia, quando centenas de milhares de manifestantes juntaram-se ao levante — em parte motivados pela violência policial — após as orações de sexta-feira.

Autoridades egípcias desligaram o sinal de telefonia móvel e mesmo a internet, para impedir protestos, além de atirar contra as multidões.

Sobre o registro vazado recentemente, comentou Aly: “Essas cenas foram a principal razão para a Revolução Egípcia e, no seu 11° aniversário, vemos o mesmo cenário se repetir, mas ainda mais hediondo do que da outra vez”.

“Minha mensagem ao mundo e ao governo de Joe Biden é: pare de enviar ajuda ao regime egípcio, pare de vender armamentos ao regime egípcio, porque [o presidente Abdel Fattah el] Sisi usa sua ajuda e suas armas para torturar o povo egípcio”.

O pai, o primo e o tio de Aly foram presos no início de 2021, como parte dos esforços do Cairo para silenciar dissidentes no exterior.

“O regime egípcio sequestrou três de meus familiares no último ano, nessa mesma época, porque eu pratico um dos meus direitos fundamentais nos Estados Unidos, que é a liberdade de expressão; temo que essas cenas de tortura estejam acontecendo com meus familiares neste exato momento”.

“O Egito é agora a república do medo”.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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