Tel Aviv anunciou novos planos para a aldeia de Khan al-Ahmar, na Cisjordânia ocupada, demolida e reconstruída diversas vezes, que atraiu atenção internacional após a Suprema Corte de Israel aprovar sua destruição absoluta, em 2018. Por um breve período no ano seguinte, a iminente devastação de Khan al-Ahmar foi explorada politicamente pelo então premiê israelense Benjamin Netanyahu, que insistia em demolí-la antes das eleições gerais de seu país. Neste entremeio, o Tribunal Penal Internacional (TPI) advertiu que a demolição da aldeia representaria um flagrante crime de guerra.
Apesar dos sucessivos adiamentos, no entanto, as declarações de Netanyahu, de que a destruição de Khan al-Ahmar é parte integral da política colonial israelense, ainda são verdade, ao passo que o estado de apartheid deseja contiguidade territorial na área. Sob a recente proposta, a aldeia será destruída e supostamente reconstruída a 300 metros de distância de seu perímetro original. Não é surpreendente que os residentes palestinos jamais foram consultados sobre o novo esquema.
As conversas sobre a anexação israelense da Cisjordânia ocupada foram engavetadas desde os Acordos de Abraão — isto é, a normalização com os estados árabes — dado que o governo da ocupação preteriu esforços de jure para favorecer avanços de facto, a fim de esquivar-se do escrutínio internacional. Embora Israel tenha vantagem sobre a questão territorial, entidades coloniais acusam os próprios palestinos de embarcar na “expropriação” das terras — isto é, suas próprias terras. Meir Destsch, diretor executivo da ong israelense Regavim, destacou sua oposição à transferência de Khan al-Ahmar: “A área em questão, conhecida como Mishor Adumim, é a mais estratégica entre Jerusalém e o Vale do Jordão, Jericó e Ramallah. É por isso que atrai tamanha atenção da Autoridade Palestina e da União Europeia”.
Entretanto, a atenção de ambas as entidades reservada a Khan al-Ahmar é meramente esporádica e costuma coincidir com manchetes na imprensa. Dessa forma, o pressuposto de Destsch de que o Ministério da Defesa de Israel está favorecendo uma suposta arapuca palestina é absolutamente absurda: “A localidade estratégica é o que atrai tamanha atenção. O desejo do Ministro da Defesa [Benny Gantz] de encobrir os fatos em campo é a própria materialização da estratégia palestina de expropriar [sic] a área”.
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Mais pertinente à questão é o reiterado deslocamento forçado imposto aos residentes de Khan al-Ahmar desde sua primeira expulsão da região do Naqab (Negev), após a Nakba ou “catástrofe”, via limpeza étnica, em 1948, que culminou na criação do Estado de Israel, além da própria recusa da ocupação de reconhecer as aldeias beduínas.
Para a Autoridade Palestina (AP), não obstante, Khan al-Ahmar concede uma oportunidade de relações públicas ao ser considerada matéria “favorável”. Afinal de contas, a experiência contínua do deslocamento forçado do povo palestino não é estranha a Ramallah, mesmo embora as administração estabelecida não considere a questão dos refugiados e seus direitos legítimos como relevantes a seu discurso diplomático.
A União Europeia, por outro lado, mantém-se preocupada com a aldeia à medida que se encaixa em seu paradigma humanitário. Uma resolução do Parlamento Europeu, promulgada em 2018, destacou claramente os receios do bloco sobre Khan al-Ahmar, ao vincular a matéria à “solução de dois estados”. Os alertas europeus emitidos a Israel sobre as expulsões dos residentes palestinos não são diferentes de mensagens reafirmadas em diversas outras ocasiões, ao insistir apenas que a transferência compulsória “constitui uma grave violação da lei internacional” e, portanto, prejudica a concessão de dois estados.
É absurdo falar em esforços palestinos para anexar suas próprias terras, como alega a Regavim. Os palestinos têm direito mais do que legítimo de manter sua presença na região, o que Israel tenta negar há décadas. Além disso, apesar de rumores infundados de um suposto estratagema árabe, a verdade é que o apoio da comunidade internacional ao povo palestino é somente acessório comparado a sua cumplicidade com a ocupação israelense e seus planos de anexação ilegal verdadeiramente em curso, como expuseram de maneira nítida os Acordos de Abraão.
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