Infelizmente, não é incomum ouvirmos pessoas leigas chamando palestinos de terroristas. Esse fenômeno se dá por alguns motivos, e aqui neste breve texto abordaremos um desses motivos, na intenção de, posteriormente, trazer uma análise sobre os demais principais fatores.
O ponto a ser abordado nesta análise é a distorção do ponto de vista sob a perspectiva histórica e social de vítima e agressor. “Não confunda a reação do oprimido com a violência do opressor” é uma célebre frase que atravessa gerações. Em consonância, três anos depois do assassinato de Malcom X, o autor da frase, Paulo Freire escrevia a obra Pedagogia do Oprimido, na qual aponta:
A violência dos opressores que os faz desumanizados (os oprimidos), não instaura uma outra vocação – a do ser menos. Como distorção do ser mais, o ser menos leva os oprimidos, cedo ou tarde, a lutar contra quem os fez menos. E essa luta somente tem sentido quando os oprimidos, ao buscar recuperar sua humanidade, que é uma forma de criá-la, não se sentem idealisticamente opressores, nem se tornam, de fato, opressores dos opressores, mas restauradores da humanidade em ambos.
O que Paulo Freire descreve é o que Malcom X deixa subentendido em sua frase. O oprimido, vendo-se em situação de humilhação, reage na tentativa de espelhar a ação do opressor, que se engrandece ao passo que designa outrem ao jugo da opressão, da desumanidade, da exploração e da humilhação. O alerta, entretanto, é claro: o oprimido precisa não apenas superar a opressão e o opressor, mas, também, não se tornar um novo opressor, o que fará melhores ele, liberto da opressão, e o opressor, que não deixará de estar liberto de exercê-la.
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À medida que compreendemos os ensinamentos acima, façamo-nos alguns questionamentos. De quais atos terroristas se referem quando acusam os palestinos de terrorismo? Do massacre de Sabra e Chatila? Da chacina em Deir Yassin (este ocorrido antes da autoproclamação de Israel enquanto Estado, com a ação das milícias sionistas)? Do cerco a Gaza ou à Cisjordânia? Do impedimento à entrada de insumos hospitalares e/ou da privação ao abastecimento de água potável (ambos em Gaza)? Nenhum desses atos foi promovido pelos palestinos; pelo contrário, nestes os palestinos ocuparam e seguem ocupando a posição do oprimido.
Atualmente, os palestinos representam mais de 6 milhões de refugiados, o maior grupo de refugiados do mundo, como resultado de um processo de limpeza étnica e ocupação que se concretizou pela força e pelo terror em 1948, mas que perdura até os dias atuais. A ONU (Organização das Nações Unidas) afirma que hoje a situação dos Direitos Humanos em territórios palestinos é desastrosa e quem sofre são os palestinos. Portanto, em face destes fatos, podemos reconhecer que, historicamente, o povo palestino se encontra na posição de oprimido, que, segundo a obra de Paulo Freire, acaba por desenvolver a tentativa de se contrapor aos atos do opressor, buscando supera-lo, porém com vista a se humanizar e humanizar o próprio opressor.
Podemos, também, comprovar a posição dos palestinos através de dados recentes dos bombardeios de maio de 2021.
Do dia 07 de maio de 2021 ao dia 18 de maio de 2021, de acordo com o ONU
- 212 palestinos foram mortos, dos quais 61 eram crianças;
- 1.500 palestinos foram feridos;
- 58.000 palestinos fugiram do país, tomando-se refugiados; e
- 10 israelenses morreram, nenhuma delas criança.
Os números relativos a estes recentes eventos violentos, tratado pela mídia internacional como parte de um “conflito” causado pelos “terroristas” palestinos, resumindo-os ao Hamas e a este imputando inverdades que ultrapassam a crítica possível às suas escolhas, mostram que a posição de agressor, definitivamente, não é palestina.