Uma escultura dedicada ao emir Abdelkader, herói da luta anticolonial da Argélia, foi vandalizada no centro da França, horas antes de sua inauguração, neste sábado (5).
A obra de ferro produzida por Michel Audiard foi encomendada para celebrar o 60° aniversário da independência argelina, exposta na cidade de Amboise, onde o acadêmico islâmico e então comandante militar ficou detido entre 1848 e 1852, após liderar a resistência contra a invasão francesa ao país norte-africano, em 1830.
A escultura foi ideia do historiador Benjamin Stora, incumbido pelo presidente Emmanuel Macron de reaproximar ambos os países, apartados pela brutal guerra por libertação que encerrou os 132 anos de colonização francesa.
Entretanto, a parte inferior da obra foi severamente danificada, em meio a uma campanha eleitoral marcada por discursos islamofóbicos, nacionalistas e contrários à imigração.
A polícia supostamente lançou uma investigação sobre o incidente.
O prefeito Thierry Boutard decidiu prosseguir com a cerimônia de inauguração, ao alegar “vergonha de que alguém possa tratar uma obra de arte e seu autor dessa maneira”.
“Meu segundo sentimento, certamente, é a indignação”, acrescentou Boutard. “Este é um dia de união e harmonia e tais comportamentos são inaceitáveis”.
Mohamed Antar Daoud, embaixador argelino em Paris, participou do evento e condenou o atentado como “ato de indescritível baixeza”.
Abdelkader nasceu na Regência de Argel, então território do Império Otomano, e formou-se como teólogo islâmico antes de recorrer à luta armada para unir as tribos argelinas contra a ocupação europeia. Considerado um dos fundadores da Argélia moderna, seus esforços de resistência levaram a metrópole a descrevê-lo como seu “pior inimigo”.
Abdelkader ficou quatro anos encarcerado no castelo de Amboise, após uma rebelião frustrada que posteriormente levou à Síria, onde conquistou o reconhecimento internacional por conferir salvo-conduto a milhares de cristãos e diplomatas, durante uma campanha de violência sectária entre drusos e maronitas, em meados de 1860.
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