A França, autoproclamada estado secular, decidiu dobrar seu financiamento a escolas cristãs no Oriente Médio, em paralelo a uma consistente perseguição contra as comunidades islâmicas no país europeu, que levou ao fechamento de instituições de ensino pelas autoridades.
O presidente Emmanuel Macron anunciou os recursos durante um evento no Palácio do Eliseu, em Paris, na última semana. “Apoiar os cristãos no Oriente Médio é um compromisso de longa data na França, uma missão histórica”, declarou Macron segundo a rede de notícias France 24.
O envio de recursos a escolas cristãs radicadas nos países árabes deve dobrar neste ano, de €2 milhões (US$2.2 milhões) a €4 milhões (US$4.5 milhões). Os planos serão cofinanciados pelo governo francês e pela organização religiosa L’Œuvre d’Orient.
O anúncio foi considerado uma surpresa, dado que a França busca promover-se como bastião do secularismo internacional. Nos últimos anos, o governo europeu justificou sua repressão a expressões da fé islâmica em nome da laicidade do estado.
Em 2020, por exemplo, a única escola islâmica de Paris foi fechada, apesar de seguir o currículo nacional, de caráter secular. As autoridades, no entanto, preferiram interditá-la, pois a diretoria permitia a seus estudantes utilizar hijab (véu), caso desejassem.
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Nesse entremeio, o hijab tornou-se foco de uma campanha política contra símbolos religiosos nos espaços públicos, desde 2004. Meninas e mulheres muçulmanas são proibidas de vestir o lenço nas escolas e universidades, por exemplo.
Segundo analistas, o aceno de Macron à comunidade cristã tem fins eleitorais. A ressurgência de grupos de extrema-direita na França e na Europa em geral trouxe à tona discursos políticos fundamentalmente hostis aos muçulmanos.
Supostos casos de perseguição contra habitantes cristãos do Oriente Médio tornaram-se um chamado veemente à mobilização de nichos reacionários da sociedade. Macron busca assim conquistar o voto de tais grupos e melhorar suas chances de reeleição.
Embora a narrativa de extrema-direita insista que os cristãos na região são ameaçados pelos muçulmanos, líderes da Igreja alertaram para o risco de “extinção” da comunidade cristã na Palestina ocupada, devido a ataques de grupos coloniais exclusivamente judaicos.
Não obstante, a direita europeia costuma conferir apoio ao estado sionista de Israel.
Paris financiou 174 escolas cristãs no Oriente Médio, no último ano: 129 instituições no Líbano; 16 no Egito; três na Jordânia; sete em Israel; e 13 nos territórios palestinos ocupados.