Uma trabalhadora doméstica levou seu antigo empregador aos tribunais libaneses, ao acusá-lo de escravidão e tráfico humano. O processo, registrado pela fundação Legal Action Worldwide (LAW), radicada em Londres, é o primeiro caso penal deste tipo no Oriente Médio.
Meseret Hailu Deneke, cidadã etíope de 37 anos, denunciou exploração análoga à escravidão cometida por sua ex-patroa, May Saadeh, de 49 anos, junto da agência de recrutamento que proporcionou sua mudança ao Líbano.
Deneke reitera que foi forçada a trabalhar sem remuneração por sete anos, nos quais sofreu agressões físicas e foi impedida de contactar o mundo exterior. Sem informações, sua família recorreu a advogados e ativistas para localizá-la e permitir seu retorno, em 2019.
De Dera, sua aldeia natal, Deneke afirmou ao The National: “Quero justiça. Espero que meu caso sirva de alerta a todos os abusadores que seus crimes serão punidos, um dia”.
Uma audiência preliminar ocorreu nesta quinta-feira (10), no Palácio da Justiça, em Baabda, na região do Monte Líbano, com a presença de sua ex-patroa. A agência de emprego, acusada de tráfico humano, não enviou nenhum representante ao tribunal.
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Os advogados pediram um mandado de prisão contra o recrutador, mas o juiz supostamente não pôde fazê-lo pois sua identidade permanece desconhecida.
O caso retornará à corte em 31 de março.
Cerca de 250 mil imigrantes trabalham no setor de serviços domésticos no Líbano; a maioria, de países africanos e asiáticos. Muitos ficam sob jugo do sistema de kafala, que vincula residência legal no país-anfitrião com laços contratuais de trabalho.
Sob esta forma de “patrocínio”, os imigrantes são excluídos da legislação trabalhista no Líbano e não podem se defender de condições exploratórias. A vulnerabilidade se agrava por temores de deportação, caso denunciem abusos cometidos pelos empregados.
Condenações ao sistema de kafala são raríssimas no Líbano.