Abdel Fattah al-Burhan, comandante máximo do exército sudanês, descartou neste sábado (12) ameaças ocidentais de novas sanções e defendeu encontros de seus subordinados com agentes israelenses como esforços de cooperação de segurança, sem natureza política.
As informações são da agência de notícias Reuters.
Burhan liderou um golpe militar em 25 de outubro que encerrou a parceria entre as Forças Armadas e grupos civis, que deveria culminar em eleições democráticas.
Desde então, o Sudão é tomado por protestos e permanece sob escrutínio internacional.
Oficiais dos Estados Unidos reafirmaram que buscam alternativas para responder ao assassinato de 79 manifestantes, segundo números registrados por associações de saúde, além dos esforços para impedir a instauração de um governo civil.
Em sua primeira entrevista à televisão estatal desde o golpe, Burhan insistiu que Washington recebe “informações imprecisas” e enfatizou: “Sanções e ameaças não são nada úteis”.
Burhan assumiu responsabilidade nominal pelas investigações sobre as mortes, mas sugeriu envolvimento de “grupos estrangeiros” nas manifestações; contudo, sem conceder detalhes.
Conforme o comandante, as Forças Armadas estão comprometidas em entregar o poder a um governo eleito ou outro arranjo instituído por “consenso nacional”. Burhan repetiu promessas de conduzir eleições em meados do próximo ano.
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Segundo seu relato, o exército reuniu-se com representantes dos comitês de resistência que coordenam os protestos e concordou em diversos aspectos. Em nota, entretanto, os comitês rechaçaram o diálogo com os líderes do golpe de estado.
Antes mesmo do golpe, o exército abriu caminho para normalizar relações com Israel, no final de 2020, seguindo os passos dos Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Marrocos.
Burhan afirmou que os encontros entre oficiais sudaneses e israelenses, comuns desde sua ascensão ao poder, não compreendem o alto escalão, mas sim os aparatos de inteligência e segurança do estado.
“É uma questão legítima às agências e não é segredo que informações compartilhadas nos permitiram monitorar diversas organizações terroristas radicadas no Sudão”, argumentou.
Manifestantes acusam o exército de devolver poderes a correligionários do ex-ditador Omar al-Bashir, deposto por protestos populares em 2019. Nesta semana, dois políticos influentes, envolvidos em um comitê para desmantelar as redes de Bashir, foram presos.
Em resposta às críticas, Burhan negou envolvimento nas ordens de detenção, mas insistiu que oficiais indicados desde a tomada de poder já exerciam cargos civis no serviço público e que o comitê afastou-se de seus objetivos fundamentais.
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