Conselho de Segurança faz reunião de emergência para evitar “conflito real” na Ucrânia

Demonstrando “grande preocupação e tristeza”, a subsecretária-geral da ONU para Asuntos Políticos e Consolidação da Paz abriu a reunião de emergência do Conselho de Segurança, na noite de segunda-feira, para discutir a “situação perigosa que se desenrola na Ucrânia.”

O encontro ocorreu no fim da noite de segunda-feira, horas após o presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmar que reconhecia duas regiões do leste da Ucrânia como “Estados independentes” e enviar tropas para essas áreas.

Milhares de violações de cessar-fogo  

Rosemary DiCarlo declarou que “o risco de um grande conflito é real e precisa ser evitado a todo custo e pediu o fim de todas as hostilidades. Ela lembrou que a decisão da Rússia em reconhecer a independência das regiões de Donetsk e Luhansk “viola a integridade territorial e a soberania da Ucrânia, podendo gerar repercussões globais”.

DiCarlo também lamentou o envio de tropas russas para o leste da Ucrânia e a decisão de se pedir uma “evacuação em massa de civis residentes em Donetsk e Luhansk para a Federação Russa”.

Ela demonstrou ainda preocupação com a escalada do conflito na linha de contato.

Ela citou dados da Missão de Monitoramento da Organização para Segurança e Cooperação na Europa, que registrou 3,231 violações de cessar-fogo na área de Donbas entre os dias 18 e 20 de fevereiro; 1,073 violações de cessar-fogo, incluindo 926 explosões em Luhansk e 2,158 violações de cessar-fogo, incluindo 1,1 mil explosões em Donetsk.

Apelo ao fim das hostilidades  

Rosemary DiCarlo declarou que “todas as partes envolvidas têm responsabilidades perante a lei humanitária internacional e a lei de direitos humanos”. Segundo ela, a situação atual na região terá possivelmente impactos nos trabalhos de negociação “com os atuais riscos e incertezas, é ainda mais importante buscar o diálogo”, lembrando que “a negociação é o único caminho para tratar as diferenças” e pediu a todos os envolvidos mais esforços para o fim imediato das agressões.

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No Conselho de Segurança, DiCarlo lembrou o compromisso da organização com a Ucrânia, um dos países fundadores das Nações Unidas, sendo que o país continua buscando a reforma da agenda democrática 30 anos após a independência.

A subsecretária-geral da ONU garantiu que a ONU continua comprometida em manter sua presença e operações na Ucrânia, incluindo nas regiões de Donetsk e Luhansk e lembrou que a segurança de todos os funcionários precisa ser respeitados por todos os lados.

Embaixadores da Ucrânia e da Rússia  

DiCarlo afirma que os próximos dias serão críticos, garantindo que o secretário-geral António Guterres continuará trabalhando para uma resolução da crise atual.

O embaixador da Ucrânia na ONU, Sergiy Kyslytsya, também participou da reunião de emergência do Conselho de Segurança e declarou que “a Rússia é um vírus por provocar a guerra e o caos há oito anos”, ao se referir à crise da Crimeia, em 2014, e que deu origem aos Acordos de Minsk, e a resolução 2202 do Conselho de Segurança no ano seguinte.

O embaixador ucraniano disse que as fronteiras internacionalmente reconhecidas da Ucrânia continuarão sem nenhuma mudança “apesar de qualquer declaração ou ação da Rússia” e acrescentou: “Estamos na nossa terra. Não devemos nada a ninguém. E não iremos dar nada a ninguém. Não temos medo de nada, nem de ninguém.”

Já o embaixador da Rússia na ONU, Vasily Nebenzya, afirmou que não iria reagir, optando por concentrar seus esforços em “como evitar a guerra”. Ele informou os países-membros que segundo “acordos assinados pelas Repúblicas do Povo de Luhansk e Donetsk, a função de manter a paz nos seus territórios será tomada pelas Forças Armadas da Federação Russa”.

Nebenzya alertou aos países do Ocidente para “colocarem de lado suas emoções e não fazer a situação ficar ainda pior.”

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O Conselho de Segurança ouviu ainda a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Linda Thomas-Greenfield. Segundo ela, a decisão do presidente russo Vladimir Putin “de criar um pretexto para invadir a Ucrânia” poderá ter consequências para além das fronteiras.

Segundo ela, os Estados Unidos tomarão medidas contra a Rússia, por uma “clara violação da lei internacional” e afirmou que a resposta será “severa” no caso de haver mesmo uma invasão.

Direitos Humanos  

A situação na região será tema de uma reunião da Assembleia Geral da ONU na quarta-feira. O presidente do órgão, Abdulla Shahid, pede a todos os lados para “intensificarem negociações e mudar a trajetória atual por meio do diálogo”. Segundo ele, o total compromisso com a Carta da ONU, seus propósitos e princípios é o único caminho para garantir a paz duradoura.”

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Em outra nota, a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos diz que está monitorando a situação e fez um apelo, nesta terça-feira, para “a prevenção da escalada do conflito, para se evitar incidentes envolvendo civis e destruição de infraestrutura civis”.

Segundo Michelle Bachelet, todos os lados precisam parar as agressões e criar o caminho para o diálogo, ao invés de promover mais violência.

Publicado originalmente em Onu News

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