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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

A Palestina Negra

Palestinos reúnem-se em um memorial para o presidente sul-africano Nelson Mandela, em uma área de Jerusalém Oriental popular entre os residentes africanos, em 7 de dezembro de 2013 [Saeed Qaq/Apaimages]

Na Palestina ocupada, usurpada por um governo sionista, em meio as mortes e os escombros de terras roubadas, existe uma comunidade invisível aos olhos do mundo, são os afro-palestinos.

Sua presença nessas terras remontam 634 quando da retomada de Jerusalém sob o governo do Al muminim Omar Ibn Al Khatab, peregrinos da Nigéria, Chade, Sudão, Gana, Burkina Faso, Mauritânia e Senegal, que originalmente fizeram esse caminho durante o Hajj (peregrinação) para Makka e se estabeleceram em Jerusalém ao lado da mesquita de Al-aqsa, terceiro lugar mais sagrado para os muçulmanos, local onde o Profeta Muhammad (S.A.S) ascendeu a Jannah.

A comunidade vive comprimida entre dois postos de vigilância israelense, numa edificação de 900 anos, um antigo presídio da era Otomana Ribat Al Mansuri chamado de prisão de sangue, o “Bairro Africano” ou “Mantiqa Kush” bairro de preto, como é conhecido, fica no portão norte de Jerusalém velha, principal acesso à mesquita de Al-aqsa. Duplamente castigados pelo sionismo, os 350 afro-palestinos, são vítimas das atrocidades de Israel e do seu racismo sistemático que tenta destruir a Palestina com sua colonização ilegal e assassinato do seu povo.

Desde a Nakba em 1948, a população afro-palestina torna-se cada vez menor. Foram para países fronteiriços como Jordânia ou Egito, bem como para o exílio, expulsos de seu próprio solo ou mortos nos ataques sionistas. Antes da Nakba, eles residiam em áreas ao redor de Jaffa, Ramle, Jerusalém, Jericó ou como beduínos nômades do Negueb.

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Mesmo sendo mortos e segregados brutalmente, eles resistem e mantém a tradição de serem os guardiões da Mesquita Sagrada de Al-aqsa. Algumas centenas de pessoas vivem nas cidades de Jericó, Jenin e Tulkarem. Cerca de 11.000 afro-palestinos vivem em Gaza.

Após a anexação sionista de muitos territórios, bem como a ocupação da Cisjordânia e Gaza em 1967, a política sionista contra a comunidade afro-Palestina é tão discriminatória quanto a que mantém contra o resto dos palestinos, com o agravante do racismo. Os afro-palestinos, que fizeram parte da resistência, criaram um batalhão, em 1948, que impediu a anexação ilegal de Jerusalém Oriental. Da mesma forma, a primeira mulher a fazer parte de uma operação de resistência contra o sionismo foi uma afro-palestina, Fatima Bernawi, que após vários anos na prisão foi negociada por israelenses detidos, que viviam em regime de exílio, até que após a retirada israelense de Gaza, Bernawi foi libertada e passou a integrar a força policial da Autoridade Palestina.

Palestinos reúnem-se em um memorial para o presidente sul-africano Nelson Mandela, em uma área de Jerusalém Oriental popular entre os residentes africanos, em 7 de dezembro de 2013 [Saeed Qaq/Apaimages]

Além de viverem um inferno na terra, os afro-palestinos residentes em Jerusalém Oriental sofrem batidas policiais ilegais por parte do sionistas, que os humilham com os mais desprezíveis adjetivos, tentando lhes arrancar a humanidade, os espancam e ameaçam ou lhes dizem que não fazem parte daquela terra, alguns homens  afro-palestinos acumulam centenas de passagens pela polícia israelense, são muitas as prisões ilegais e os sionistas impedem qualquer forma de sustento dos indivíduos que pertencem a este grupo fechando o acesso ao bairro de Jerusalém oriental, onde situa se a rua Alaa Addin.

É difícil adentrar o bairro onde residem, já que o controle sionista impede, não há fácil acesso aos turistas e assim os afro-palestinos não podem vender souvenirs ou produção artesanal, ou servir como guias turísticos, já que muitos vão a Jerusalém e sequer percebem o existência da comunidade devido a perseguição do governo genocida.

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Os afro-palestinos são parte da comunidade árabe-palestina, fazem parte de praticamente tudo relacionado à cultura árabe, sua língua é o árabe, a música e a dança, além da gastronomia e cultura. Os afro-palestinos buscam se aproximar de outras comunidades africanas como a etíope, da qual, somente aqueles que são cristãos da Igreja copta, que está presente em Jerusalém desde 1893, são aqueles que têm contato com eles, porque os judeus etíopes da comunidade sionista os rejeitam, e até mesmo seus membros nas forças de segurança israelenses são mais cruéis com eles, para mostrar mais lealdade e confiança a Israel, mas, no entanto, os judeus etíopes são como uma casta inferior no Estado, onde cada vez mais protestos surgem contra a política sionista, que habilmente os esconde ou neutraliza, tendo a seu favor a mídia e sua capacidade de persuadir e camuflar suas atrocidades contra negros, esterilizando mulheres em idade fértil, disfarçados de programas de saúde.

A desconstrução e lavagem cerebral que o governo sionista faz aos etíopes é tão absurda, que eles se dissociam de sua cor e etnia e matam seus irmãos, a ponto de lhes tratar como um grupo inferior digna dos morticínios perpetrados por Israel .

Zohr Al Qadi, matriarca de 76 anos

A comunidade afro-palestina resiste, comandada por uma mulher preta Zuhra Al Qadi de 76 anos, que luta para salvaguardar as 50 famílias que vivem no bairro, porém suas condições de vida são extremamente precárias, pois vivem numa edificação de 900 anos, onde celas de aproximadamente 30 metros quadrados foram convertidas em habitações. Em alguns casos precisam guardar seus pertences nas ruas da edificação, por não haver estrutura suficiente para sobrevivência digna.

Com ajuda do Banco Islâmico, que está investindo na reforma de parte das construções, afim de proporcionar vida digna a comunidade, estão tentando reconquistar seu espaço antes usurpado pelo sionismo, mas a cada ataque, os investimentos param.

Dezenas de afro-palestinos estão em prisões sionistas, homens mulheres e crianças, quando Israel derrama sangue palestino, o povo preto palestino também sangra, a cada afro-palestino que resiste, a Palestina resiste também.

Publicado originalmente em Desacato

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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