A oposição síria condenou a atitude incoerente dos estados ocidentais por sua resposta à guerra na Ucrânia, ao compará-la com os bombardeios russos sobre o país levantino, além da diferença de tratamento entre refugiados de ambos os territórios em conflito.
Anas al-Abdah, chefe do Comitê de Negociação da Síria, expressou sua decepção à agência Anadolu, devido à diferença na abordagem sobre a resistência ucraniana e a oposição síria.
“Apoiamos a defesa do povo ucraniano diante das armas do presidente russo Vladimir Putin, mas somos contra essa grosseira e evidente duplicidade dos países ocidentais”, argumentou al-Abdah. “Nenhum assassinato, não importa a nacionalidade ou crença da vítima, deve ser tolerado”, acrescentou.
Al-Abdah comparou a reação da comunidade internacional sobre a deflagração da guerra em ambos os países. “Na Síria, houve um massacre de todo um povo perante os olhos do mundo, com cumplicidade internacional; enquanto isso, na Ucrânia, todo o mundo ocidental passou a tentar proteger sua população”.
Em último caso, insistiu al-Abdah, a invasão da última semana — que prossegue com esforços para capturar a capital Kyiv — foi facilitada pela conivência ocidental sobre os bombardeios de Moscou contra o território sírio, ao longo dos anos. A guerra na Síria fortaleceu a posição russa e conferiu imunidade sobre recorrentes ataques contra civis.
Al-Abdah advertiu ainda que a agressão pode expandir-se para além da Ucrânia, dado que o Ocidente “condedeu à Rússia apoio direto e indireto para executar novas aventuras”.
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Neste contexto, observou: “O fracasso em antecipar o perigo antes de tornar-se uma realidade em campo é um dos maiores fracassos que qualquer liderança nacional pode cometer”.
Al-Abdah criticou ainda a diferença no tratamento sobre refugiados sírios e ucranianos, após estados europeus, em particular, abrirem suas portas aos ucranianos, enquanto continuam a expulsar e assediar imigrantes não-brancos que fogem da guerra e da miséria.
Segundo al-Abdah, a grande imprensa ocidental é parcialmente cúmplice da criminalização dos refugiados e da oposição síria. “Países ocidentais estão cientes da campanha de desinformação para estigmatizar a oposição e o povo da Síria, ao designá-los terroristas; todavia, permanecem em silêncio”, acrescentou.
“A situação prejudicou nossa luta contra o regime fascista em Damasco e seus apoiadores, por nossa liberdade e pelo futuro do país”, concluiu al-Abdah.
Após a invasão à Ucrânia, o regime de Bashar al-Assad prontamente declarou apoio à ofensiva de Moscou. Em contrapartida, a oposição síria expressou seu apoio à resistência ucraniana, ao condenar a intervenção russa como um elemento comum a ambos os países.
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