Ragaei Attia, presidente da ordem dos advogados do Egito, faleceu neste sábado (26) durante uma audiência na qual defendia nove advogados indiciados em 2015 por protestos e suposta agressão contra agentes públicos.
Ragaei tinha 84 anos e sofreu um ataque cardíaco em um tribunal de Gizé. Posteriormente, a corte penal absolveu três dos réus e emitiu uma pena condicional aos outros seis advogados.
Um dos acusados foi encarcerado em 2015 após comentar um mandado judicial.
Após sua prisão, membros da Ordem dos Advogados de Gizé tentaram mediar em nome de seu colega; contudo, ao invés de escutá-los, a promotoria pública da região norte da cidade decidiu encaminhá-los a um julgamento penal.
Os nove advogados foram então indiciados por obstrução, uso da força contra funcionários públicos, e roubo de documentos judiciais, em suposto prejuízo do trabalho da promotoria.
Em 9 de fevereiro, a Ordem dos Advogados do Norte de Gizé instou seus membros a deixar de pagar taxas judiciais em toda a região como protesto ao veredito deferido contra seus colegas.
Neste entremeio, mais de cem advogados reuniram-se e protestaram em silêncio em frente ao Tribunal do Norte de Gaza.
Ativistas de direitos humanos denunciam o governo do presidente e general Abdel Fattah el-Sisi por prender advogados e intimidá-los, com intuito de dissuadí-los de casos políticos e impedir a defesa de eventuais opositores.
LEIA: Jovem egípcio cujo abuso sexual levou a um suicídio recebe cinco anos de prisão
No início deste ano, a Rede Árabe para Direitos Humanos, uma das mais proeminentes ongs do Egito, composta por uma equipe de advogados e ativistas, foi fechada pelas autoridades e seus membros foram presos e agredidos fisicamente por forças policiais.
Hoda Abdel Moneim, advogado e ex-membro do Conselho Nacional de Direitos Humanos, foi detido em novembro de 2018 após soldados destruírem sua casa.
Ezzat Ghoneim, advogado e diretor do Centro de Coordenação para Direitos e Liberdades no Egito, permanece em custódia desde setembro de 2018.
Ahmed Helmy, também advogado, foi preso no último ano após a promotoria impedir a soltura de sua cliente Takwa Nasser, sob novas alegações de coordenar uma célula criminosa na cadeia e contactar membros da Irmandade Muçulmana no exterior.
Helmy entrou com recurso, mas foi acusado de “insultar” a promotoria e detido por 24 horas. Eventualmente, foi libertado.
Mohamed al-Baqer, advogado de direitos humanos, desapareceu nas mãos das autoridades em dezembro de 2020, após uma investigação contra seu cliente, Alaa Abdul Fattah, proeminente blogueiro egípcio preso durante as manifestações de setembro de 2019.
A morte de Ragaei no tribunal ecoa o caso do ex-presidente Mohamed Morsi, que desmaiou durante uma audiência em junho de 2019 e faleceu mais tarde, em um hospital.