Grupos iraquianos estão contrabandeando armas à Rússia com ajuda do Irã e milícias aliadas, revelou uma reportagem do jornal britânico The Guardian.
Segundo fontes de inteligência e representantes paramilitares, armamentos pesados – como sistemas de defesa balística e mísseis antitanque – foram enviados a Moscou por terra e mar, na tentativa de auxiliar o estado ocupante em sua operação na Ucrânia.
Dentre as armas encaminhadas, estão lançadores de granada; sistemas de foguetes projetados no Brasil; baterias iranianas Bavar 373; e sistemas de defesa aérea S-300, produzidos na Rússia, exportados ao Oriente Médio e agora devolvidos a seu local de origem.
De acordo com um comandante paramilitar que cooperou com o processo logístico, as armas atravessaram a fronteira entre Iraque e Irã pela primeira vez pela travessia de Salamja, em 26 de março. Foram então recebidas por contatos iranianos e transportadas por mar ao estado russo.
Os armamentos remetem às Forças de Mobilização Popular, coalizão xiita apoiada por Teerã que opera em solo iraquiano – a princípio, sob diretrizes do governo para combater o grupo terrorista Estado Islâmico (Daesh).
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Uma das remessas envolveu três navios de carga – dois russos e um iraniano – que levaram grandes carregamentos através do Mar Cáspio, do porto de Bandar Anzali, norte do Irã, até Astrakhan, no delta do Rio Volga.
Uma fonte da coalizão iraquiana relatou ao The Guardian: “Não nos importa aonde vão armas pesadas … Se for contra os Estados Unidos, estamos felizes”
As Forças de Mobilização Popular parecem não precisar dos equipamentos; Moscou, todavia, demanda apoio efetivo. Segundo Yoruk Isik, especialista em assuntos marítimos radicado em Istambul: “Os russos na Ucrânia precisam de mísseis, o que exige habilidade para transporte, dado que são frágeis e podem explodir”.
“Esta operação, no entanto, poderia passar despercebida nas imagens por satélite, pois esses itens costumam ser transportados em grandes contêineres e caixas de uso regular”, prosseguiu.
Segundo analistas, a motivação iraniana para ajudar clandestinamente na ocupação russa decorre do impacto devastador que uma derrota de Vladimir Putin teria sobre a república islâmica e suas milícias, sobretudo na Síria.
Apesar da recente disputa entre as partes no território sírio, em busca de influência sobre o regime de Bashar al-Assad, os objetivos e interesses de Moscou e Teerã continuam interligados, materializados em um suposto “eixo de resistência” contra a hegemonia ocidental.
Como disse Mohaned Hage Ali, pesquisador do Centro Carnegie para o Oriente Médio: “Caso o regime russo seja desestabilizado, haverá implicações graves a Teerã, sobretudo na Síria, dado que Damasco depende de apoio aéreo e coordenação russa para evitar um conflito direto com Israel”.