O partido tunisiano Ennahda acolheu nesta quinta-feira (14) a iniciativa de Ahmed Najib Chebbi, chefe do comitê político do movimento al-Amal, para compor uma frente unitária com o intuito de reagir ao “golpe de estado” conduzido pelo presidente Kais Saied.
O apoio do Ennahda foi corroborado por um comunicado ao público assinado por seu chefe partidário, Rached Ghannouchi, ex-presidente do parlamento.
“O Ennahda acolhe a iniciativa do patriota Ahmed Najib Chebbi, que clama pela formação de uma frente política abrangente capaz de unificar esforços e abordagens contra o golpe e oferecer alternativas e soluções para salvar o país de suas múltiplas crises”, declarou a nota.
No último domingo (10), durante um protesto em Túnis, Chebbi fez um apelo por uma “frente de salvação nacional”, além de uma conferência política de caráter inclusivo.
Saied acusou seus opositores de traição e conspiração com entes estrangeiros, alegações às quais o Ennahda respondeu ao reafirmar “seu compromisso com a soberania nacional e seu pleno respeito com todas as políticas de estado”.
Ao comentar a crise socioeconômica, o Ennahda responsabilizou o governo de Saied “por sua incapacidade de gerir o país e por impor um fardo abusivo por meio de tributos aos cidadãos”.
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O partido também culpabilizou Saied por “seu fracasso em controlar a carestia e a considerável escassez de produtos essenciais e medicamentos, sobretudo durante o Ramadã”, mês sagrado para os muçulmanos.
A economia da Tunísia enfrenta sua pior crise desde sua independência, em 1956, como resultado da instabilidade política que sucedeu a revolução popular de 2011, cuja vitória destituiu o longevo ditador Zine el Abidine Bem Ali
A pandemia de covid-19 e a guerra russo-ucraniana agravaram a situação.
No mesmo contexto, o Ennahda apelou a Saied para interromper atos de perseguição política, outorgados através do Ministério do Interior.
Em 25 de julho, o presidente conservador assumiu uma série de “medidas excepcionais” para congelar o parlamento, dissolver o Supremo Conselho de Justiça e governar por decreto.
Neste contexto, Saied prometeu antecipar as eleições legislativas para dezembro deste ano.
As principais forças políticas do país norte-africano consideram tais avanços como “golpe contra a constituição”; outros alegam “correção de curso na revolução”. Saied insiste na legalidade de suas ações, sob pretexto de um “iminente perigo”.
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