Neste domingo de Páscoa, o Papa Francisco defendeu o acesso “livre” aos lugares sagrados de Jerusalém, onde, nos últimos dias, forças israelenses atacaram fiéis que oravam na mesquita al-Aqsa. Até agora, quase 200 palestinos foram feridos e mais de 450 foram detidos em Jerusalém.
“Que os israelenses, os palestinos e todos os habitantes da Cidade Santa, juntamente com os peregrinos, possam experimentar a beleza da paz, viver em fraternidade e acessar livremente os Lugares Sagrados, respeitando mutuamente os direitos de cada um”, disse o Papa durante a tradicional benção “Urbi et Orbi” do domingo de Páscoa, proferida da varanda da Basílica da Praça de São Pedro.
“Deixemo-nos vencer pela paz de Cristo! A paz é possível, a paz é um dever, a paz é responsabilidade primária de todos”, disse ainda o papa, em referência às guerras.
Na sexta-feira (santa para os cristãos e o dia sagrado aos muçulmanos, equivalente ao domingo cristão, porém revestido de importância especial quando durante o mês sagrado de Ramadã), mesmo após os alertas emitidos por diversas organizações internacionais e líderes religiosos islâmicos e cristãos, por volta das 6:30 policiais israelenses das forças de ocupação invadiram a Esplanada das Mesquitas disparando balas de borracha, granadas de gás e agredindo os fiéis com cassetetes. Os agressores israelenses trancaram centenas de fiéis na mesquita enquanto atiravam granadas de gás pelas janelas.
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Ao novamente acontecer durante o Ramadã, e com extrema violência, a agressão repete ações idênticas de anos passados, em meio à Semana Santa e Páscoa cristã e às vésperas da páscoa judaica. O ataque não poupou mulheres, crianças, idosos ou deficientes.
A profanação à Esplanada das Mesquitas se tornou recorrente e atende, na prática, aos apelos de extremistas judeus que querem sua destruição para em seu lugar restaurar o mítico templo de Salomão, cuja existência é atualmente contestada por importantes historiadores e arqueólogos, inclusive israelenses. Neste contexto, estes judeus fanáticos, muitos deles colonos violentos e armados, pedem acesso ao local para suas manifestações, o que tem sido garantido pela ocupação israelense por meio de suas forças, que os acompanham e lhes dão proteção. Estas ações têm degenerado em conflitos e extrema violência contra os palestinos.
E não é apenas aos muçulmanos que o extremismo judaico dirige sua fúria. Nos últimos anos a Páscoa cristã foi igualmente reprimida. Neste ano o Patriarcado Ortodoxo Grego de Jerusalém emitiu comunicado acusando a ocupação israelense de impor “restrições policiais e práticas violentas contra os crentes que insistem em exercer seu direito divino de participar das comemorações da Páscoa em Jerusalém”.
No comunicado, publicado na segunda-feira (11), o Patriarcado diz que rejeita “explícita, clara e completa todas as restrições e que está farto das restrições da polícia à liberdade de culto e dos seus métodos inaceitáveis de lidar com os direitos naturais dos cristãos de praticarem rituais e acessar os locais sagrados da Cidade Velha de Jerusalém”.
O padre israelense Manuel Mussalam, diretor da Organização Popular Mundial para Justiça e Paz em Jerusalém, declarou, ano passado, diante de ações idênticas das forças de ocupação israelenses, que “morreremos fortes e de cabeça erguida em torno da mesquita de Al-Aqsa e da Igreja do Santo Sepulcro na Cidade Velha de Jerusalém. Nós nunca entregaremos as chaves desses lugares sagrados a qualquer preço”. O padre Manuel disse, ainda, que a ação israelense e dos colonos judeus extremistas “mostra que os sionistas estão manobrando para ocupar a mesquita, destruí-la e construir seu templo (de Salomão) em seu lugar”.
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É esta também a visão das lideranças palestinas e cristãs e muçulmanas de todo o mundo, que acusam Israel de estar colocando em prática um meticuloso plano de completa judaização de Jerusalém. Dificultar a vida de palestinos cristãos e muçulmanos em Jerusalém, bem como os acessos dos peregrinos aos sítios e templos sagrados cristãos e muçulmanos, é parte desta estratégia israelense, acusam. O temor de muitas destas lideranças é a perigosa implementação das “descristianização” e “desislamização” de Jerusalém, plano israelense cada vez mais claro e que não pode seguir sendo negligenciado.