O denominada Índice de Projeções de Insurreição Civil indicou que a inflação dos combustíveis e insumos alimentares deve fatalmente culminar em levantes populares nos países pobres ou em desenvolvimento. Egito, Tunísia e Líbano estão entre os estados mais vulneráveis.
O relatório da consultoria de risco abrange análises de entidades internacionais, incluindo o Banco Mundial, que alertam para a carestia como catalisador de levantes sociais no Oriente Médio e Norte da África. O custo dos alimentos exerceu um papel central nos protestos que tomaram conta da região durante a Primavera Árabe, em meados de 2011.
O custo de vida já se elevou em âmbito global devido a mudanças climáticas, conflitos geopolíticos e repercussões da pandemia de covid-19.
Neste contexto, segundo o Índice de Projeções de Insurreição Civil, mais da metade do planeta já vivenciou aumento considerável nas tensões civis desde o advento do coronavírus.
Neste entremeio, cerca de 80% das importações de trigo do Egito são provenientes da Rússia e Ucrânia. Somente três semanas após a invasão ordenada pelo Kremlin, o preço do pão subsidiado no país africano, ao qual recorre grande parte da população, subiu em 25%.
O custo dos alimentos levou a inflação egípcia aos maiores índices registrados desde 2019. Quase um terço da população vive abaixo da linha da pobreza, impactada por medidas de austeridade promovidas pelo regime militar de Abdel Fattah el-Sisi.
Brasil, Argentina, Paquistão e Filipinas estão também entre os dez países sob situação de alerta, dada sua dependência em importações de energia e alimentos, confirmou a agência de notícias Reuters. Somam-se à lista Senegal, Quênia e Bangladesh.
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O Líbano importa 80% de seu consumo de trigo da Ucrânia, assolada pela guerra. Ao longo de 2021, o custo mensal da cesta básica no estado levantino aumentou 351%. A crise libanesa se agravou pela explosão no porto de Beirute em 2020, que destruiu depósitos de grãos.
As Nações Unidas anunciaram previamente que o conflito em solo ucraniano levou a um salto gigantesco no preço dos alimentos, dado que o país europeu é o maior exportador do mundo de óleo de girassol e um dos principais produtores de milho e trigo.
O custo de bens alimentares alcançou recordes históricos em fevereiro e março, acompanhado por sucessivo aumento nos insumos energéticos. O problema deve avançar a 2023, conforme o relatório — “sem qualquer resolução do conflito no horizonte”.
A tentativa do Cazaquistão de cortar subsídios de combustíveis para a população já deflagrou protestos no país, assim como o aumento nos preços de insumos básicos no Sri Lanka.
De acordo com o relatório, a regionalidade dos estados vulneráveis não é surpresa. Três dos dez países em questão se situam no Oriente Médio e Norte da África, região dependente de importações, suscetível ao aumento nos preços do mercado internacional.
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“Os três países buscam atualmente ajuda do FMI [Fundo Monetário Internacional] para conter o colapso financeiro”, prosseguiu o estudo. “Cortes nos programas de subsídios costumam ser prerrogativas de acesso a recursos, implicando na probabilidade de acréscimos maiores e mais dolorosos à população”.
“Levantes de massa são, portanto, uma possiblidade”, concluiu o documento. “Espera-se que sejam reprimidos com violência pelo estado, em países com histórico trágico no que se refere às forças de segurança e aos direitos humanos”.