A indiferença da comunidade internacional sobre a violência colonial israelense em Jerusalém ocupada e Al-Aqsa não é novidade. Entretanto, desenvolveu-se recentemente sobre uma narrativa de 2019, sob a qual Nickolay Mladenov, coordenador especial das Nações Unidas para o “processo de paz” no Oriente Médio, culpou os próprios palestinos pelos bombardeios executados por Israel contra a Faixa de Gaza. A União Europeia embarcou nessa retórica, dado que apelar à ocupação para interromper seus massacres poderia danificar politicamente o espectro assistencialista internacional, sem mencionar novas críticas à impunidade israelense.
À medida que Israel manteve sua campanha ofensiva no presente ano, incluindo ataques aéreos a Gaza, a Organização das Nações Unidas (ONU) novamente se esquivou de responsabilizar a potência ocupante. Tor Wennesland – sucessor de Mladenov – optou pelo discurso de “líderes de ambos os lados”, ao eliminar qualquer referência ao objetivo declarado de Israel de colonizar a cidade de Jerusalém. “A ONU permaneceu em contato próximo com todas as partes relevantes, com o intuito de desescalar a situação. O diálogo foi construtivo, até então; encorajo que avancemos no engajamento”, declarou Wennesland em comunicado.
No entanto, não há evidência alguma de um “diálogo construtivo”, dado que Israel intensifica seus ataques ao povo palestinos. Relatos da Al-Jazeera de novos bombardeios a Gaza, sobretudo áreas civis, não remetem sequer à possibilidade de um diálogo construtivo – em particular, quando considerado o consistente padrão de violência colonial contra os manifestantes palestinos, incluindo aqueles que buscam defender-se dos esforços sionistas para expulsá-los ilegalmente do bairro de Sheikh Jarrah, em Jerusalém ocupada.
LEIA: Abordagem dos EUA confirma a morte da solução ‘dois estados’
Dessa forma, embora a ONU insista em representar a violência em curso como incidente isolado, a colonização israelense tem precedente e projeto. Os líderes palestinos fracassam sistematicamente com a comunidade nativa; portanto, é muito mais provável que uma resistência organizada se desenvolva a partir da população civil. Enquanto isso, Israel tem de lidar com o fato de sua parceria com a Autoridade Palestina (AP), por exemplo, não é tão eficaz quanto faz parecer a imprensa hegemônica. O foco persistente em fortalecer o regime em Ramallah, em detrimento do Hamas, é somente uma narrativa cada vez mais isolada e debilitada, quando observamos que os palestinos não guardam esperanças de sua liderança política assuma ações efetivas contra a brutalidade de Israel.
Todavia, tanto a autoridade quanto o povo palestino permanecem isolados de formas distintas. A Autoridade Palestina anseia por salvaguardar seu regime ilegítimo e voltou-se a Israel para tanto, mesmo ao negligenciar os abusos humanitários da ocupação sionista. De fato, os serviços policiais da Autoridade Palestina tornaram-se um exemplo básico das alianças e políticas repressivas de Ramallah e culminaram na falta quase absoluta de apoio popular à liderança.
Os palestinos, por outro lado, continuam isolados em sua determinação de preservar o que resta de suas terras e demonstrar que a violência israelense é um fato contínuo desde o advento da Nakba ou “catástrofe”, pela criação do estado sionista via limpeza étnica – narrativa que a comunidade internacional se recusa a reconhecer. Os fatos em curso na cidade de Jerusalém e no complexo de Al-Aqsa podem ser apenas uma reprise hedionda da brutalidade executada por Israel no último ano. Seria então uma breve observação para recapitular os massacres recentes – ao descrevê-los novamente como caso isolado. No entanto, persistir na abordagem que vincula as agressões contemporâneas com décadas de colonização é fundamental para contestar diretamente a falácia de segurança desenvolvida por Israel.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.