Se não é novidade a sanha golpista de Bolsonaro, fato é que ele tem elevado o tom neste ano de eleições gerais no Brasil. Como representante explícito do sionismo na cadeira do Planalto, em sua apologia à ditadura, dá sinais de que encontrou o parceiro ideal para avançar em seu intento golpista: o Estado racista de Israel.
Em 25 de março último, conforme noticiado no portal DefesaNet, ninguém menos do que o general Heber Garcia Portella, à frente do Comando de Defesa Cibernética Brasileiro Exército e que representa os militares no Comitê de Transparência das Eleições (CTE), assinou em Tel-Aviv um termo de cooperação com a startup israelense CySource “para a capacitação de militares em defesa cibernética, incluindo treinamentos de simulação de ataques para prevenção e mitigação de riscos e monitoramento de ameaças”. A parceria providencialmente, segundo a mesma reportagem, tem inicialmente duração de um ano – ou seja, abarca exatamente o período pré e imediatamente pós eleições.
À la Trump, a pretensão de Bolsonaro de uma espécie de “invasão do Capitólio” brasileira, como não é segredo para ninguém, terá a desculpa esfarrapada de questionamento à lisura das eleições – falácia que já vem sendo construída com as bravatas lançadas pelo capitão do Exército alçado à Presidência da República.
“Cibersegurança ofensiva”
A empresa de cibersegurança sionista passou a atuar no Brasil em setembro último. Fundador e CEO, Amir Bar-EI, atuou na liderança de unidades de inteligência do Mossad, serviço secreto israelense. Em sua apresentação no site da empresa, consta que é especialista em “cibersegurança ofensiva”, com mais de dez anos de experiência e passagem pela israelense NSO – a qual desenvolveu o software Pegasus, que ocupou manchetes após vir à tona escândalo de espionagem em 50 países com sua utilização. A denúncia é de que milhares de ativistas de direitos humanos, grupos de oposição e jornalistas tiveram seus aparelhos celulares invadidos e dados enviados a governos. Além dele, a equipe é formada por outros veteranos da inteligência militar sionista.
Como propaganda, segundo divulgado no portal Baguete em setembro de 2021, a CySource apresenta a aposta na tecnologia “que tem como base a experiência do exército israelense”. Um dos seus clientes é nada menos que o próprio gabinete do primeiro-ministro Naftali Bennett.
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O resultado é o assassinato somente neste ano de cerca de 60 palestinos, incluindo crianças e, nesta última quarta-feira (10/5), da correspondente da Al Jazeera Shireen Abu Akleh, enquanto ela cobria a brutalidade da ação das forças de ocupação em Jenin, Palestina ocupada. Ela estava com jaleco de imprensa e foi morta deliberadamente, com um tiro na cabeça. Não é a única: segundo o Sindicato dos Jornalistas Palestinos, desde a ocupação miitar em 1967, são 86 jornalistas. A mesma organização informou que os ataques anuais a estes variam entre 500 e 700 em média.
Estes são os testes em campo. As tecnologias de ponta ao monitoramento, controle e vigilância sob regime institucionalizado de apartheid, como não poderia ser diferente em face de um projeto colonial, cumprem seu papel à violação de direitos humanos fundamentais, às contínuas usurpação de terras e limpeza étnica.
“O domínio de Israel no campo da segurança cibernética não ocorreu no vácuo. As divisões de inteligência e operações secretas do país, especialmente sua força de segurança do Mossad, há muito têm uma reputação de se envolver em espionagem astuta, ousada e implacável, polida por representações de Hollywood”, escreveu Hadas Gold, do CNN Business.
À reportagem do DefesaNet, o gerente de vendas da CySource, Luiz Katzap, destacou ser uma expertise da empresa “essa questão de capacitação para órgãos governamentais”. Ou seja, exportar esse vasto know how alcançado sobre as cobaias humanas palestinas.
“Estávamos em tratativas com o Exército Brasileiro já há algum tempo e agora vamos poder utilizar toda nossa experiência para construir a melhor linha de treinamento em segurança cibernética baseada em Inteligência Artificial para os militares do Exército brasileiro”, declarou na matéria do DefesaNet.
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O termo de cooperação assinado inclui, ainda de acordo com a notícia, “análise de malware, fundamentos de rede, respostas a incidentes cibernéticos, red team, perícia forense digital e testes de intrusão a sistemas críticos”. Tudo muito genérico, mas lembrando como se desenvolveu a tal cibersegurança israelense, não é difícil imaginar a que fim podem servir tais competências. “Vamos capacitar o exército brasileiro com um leque completo de treinamentos, adequando todo conteúdo para atender as necessidades que foram sendo identificadas”, disse Hélio Sant’ana, gerente nacional da CySource, à reportagem. Antes de ocupar esse cargo executivo, ele foi nada menos que diretor de tecnologia junto à Secretaria-Geral da Presidência da República, nomeado por Bolsonaro.
Ora, necessidade de Bolsonaro é não permitir que as eleições transcorram democraticamente. Por essa razão, de acordo com reportagem do Correio Brazilienze do último dia 9 de maio, o subprocurador-geral do Ministério Público Federal, Lucas Rocha Furtado, enviou ofício ao Tribunal de Contas da União (TCU) para apurar irregularidades no acordo entre o Exército brasileiro e a empresa israelense. Segundo ele, como informa a matéria, “há indícios de desvio de finalidade que podem pôr em risco as eleições deste ano” no Brasil. Furtado observa, no texto, que o general Portela já tinha sido nomeado ao CTE, formado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – e que aceitou a participação dos militares cedendo à pressão de Bolsonaro –, quando assinou o contrato com a CySource. O portal IstoÉ Dinheiro, no último dia 4 de maio, aponta que Portella assinou cinco ofícios com 88 questionamentos enviados nos últimos oito meses ao TSE sobre “supostos riscos e fragilidades que, na visão dos militares, podem expor a vulnerabilidade do processo eleitoral”. Uma reprodução das bravatas de Bolsonaro, em sua maioria, em relação à segurança das urnas eletrônicas – o que já foi mais do que desmentido por especialistas.
“As desconfianças foram levantadas apesar de os órgãos de investigação nunca terem detectado fraudes no sistema eletrônico de votação. Ao contrário. No ano passado, a Polícia Federal vasculhou inquéritos abertos desde que as urnas eletrônicas passaram a ser usadas, na década de 1990, e não encontrou sinais de vulnerabilidade do equipamento. Os registros de irregularidades ocorreram, na realidade, quando a votação ainda era em cédula de papel. Depois da adoção das urnas eletrônicas, o TSE passou a submeter o equipamento a teste por hackers e não houve constatação de riscos”, descreve a IstoÉ Dinheiro. A aposta de Bolsonaro não poderia ser outra que não na fake news.
Negócios da morte
Para tanto, ele conta com a aliança sionista. Afinal, Israel, um regime colonial e de apartheid, está bem confortável em ter a ultradireita no governo brasileiro. E genocídio e violação de direitos humanos são sua praia, parte de sua gênese. Afinal, Israel foi formado sobre os corpos palestinos e suas aldeias e cidades destroçadas e se mantém na contínua Nakba (catástrofe cuja pedra basilar é a criação do Estado sionista em 15 de maio de 1948 mediante limpeza étnica planejada na Palestina).
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Nunca é demais lembrar que Israel apoiou todas as ditaduras na América Latina, inclusive no Brasil. Para o Estado sionista, pode ser lucrativo um golpe. Afinal, sustenta-se sobretudo vendendo sua expertise em derramar o sangue palestino para que estados ao redor do mundo a apliquem sobre os oprimidos e explorados – como no extermínio indígena e genocídio pobre e negro no Brasil. Se o Brasil sob os governos anteriores já alcançou a vergonhosa quinta posição enquanto importador de tecnologia militar israelense, num sistema ditatorial o potencial é de quiçá chegar ao pódio. Quanto mais repressivo, portanto, melhor para os negócios da morte. Combater essa aliança macabra está na ordem do dia dos oprimidos e explorados.
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