Israel não consegue esconder com mentiras seu mais recente crime contra palestinos

O assassinato por Israel da jornalista da Al Jazeera Shireen Abu Akleh, uma cidadã palestina-americana, chegou às manchetes da maioria dos meios de comunicação internacionais. Shireen foi morta enquanto cobria a invasão israelense da cidade palestina ocupada de Jenin, revelando a brutalidade da ocupação israelense e causando uma grande crise internacional para Israel.

Desde o início, a ocupação israelense tentou adotar uma narrativa falsa sobre o incidente, mas não conseguiu encobrir a verdade e encobrir seu crime.

Naftali Bennett, primeiro-ministro israelense, postou um vídeo no Twitter de combatentes palestinos atirando em um soldado israelense, alegando que suas balas atingiram Shireen, mas imediatamente ativistas e grupos de direitos humanos, incluindo o israelense B’Tselem, refutaram seu tweet e provaram que Shireen não foi baleada pelos combatentes palestinos que apareceram no vídeo.

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“Esta manhã, o pesquisador de campo do B’Tselem em Jenin documentou os locais exatos em que o atirador palestino retratado em um vídeo distribuído pelo exército israelense disparou, bem como o local exato em que a jornalista Shireen Abu Akleh foi morta”, o grupo de direitos humanos tuitou.

Muitos outros oficiais israelenses também estiveram envolvidos na batalha de defender o estado de ocupação e sua narrativa, mas até agora todos falharam.

Pode ser a primeira vez que Israel enfrenta tamanho dilema, o qual desencadeou a indignação e condenação de autoridades internacionais e populares. Quase todos os órgãos oficiais internacionais e as grandes potências pediram que Israel investigue o ataque de Shireen. Eu sei, eles não são sérios, mas estão tentando apaziguar a raiva das pessoas. Se fossem sérios, teriam obrigado Israel a investigar assassinatos anteriores. Shireen, de acordo com o Sindicato dos Jornalistas Palestinos, é a 55º  jornalista palestina morta por Israel.

Tudo isso levou Israel a apelar a terceiros para absorver a indignação internacional e encerrar esta página com o menor dano. O jornalista israelense Amos Harel escreveu no Haaretz: “Na quarta-feira à noite houve rodadas febris de comunicação entre Israel e a Autoridade Palestina sobre se a bala removida do corpo de Abu Akleh seria entregue para exame em Israel”.

Israel mata a tiros a jornalista da Al Jazeera Shireen Abu Akleh durante a invasão de Jenin [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]

Jonathan Lis, um jornalista israelense, escreveu no Haaretz que Israel pediu ao Catar para conter a cobertura da Al Jazeera sobre a morte de Shireen e parar com suas críticas a Israel.

 “Israel manteve contatos diversos, embora clandestinos, com o Catar, e pediu ao país para conter as críticas ferozes da Al Jazeera a Israel após a morte do repórter Shireen Abu Akleh”,

escreveu Lis.

O Catar recebeu na quarta-feira as conclusões iniciais da investigação, incluindo a alegação israelense de que Abu Akleh não fora atingida pelo fogo das forças de ocupação israelenses, mas por combatentes palestinos, escreveu Lis, afirmando que o ministro da Defesa israelense, Benny Gantz, anunciou que Israel também enviaria essas conclusões à Autoridade Palestina e aos Estados Unidos.

O estado de ocupação até agora fez grandes esforços para se eximir do assassinato, mas falhou. O correspondente militar e de defesa do Walla News israelense, Amir Bohbot, afirmou que ainda há “uma lacuna significativa entre o esforço de informação israelense e o esforço na arena internacional”. Ele afirmou que a alegação israelense de que está investigando o incidente “está prestes a terminar”.

O jornalista David Horovitz escreveu no Times of Israel sobre as preocupações do ministro das Relações Exteriores de Israel e do primeiro-ministro Yair Lapid sobre os danos diplomáticos que o assassinato de Shireen poderia causar a Israel. Horovitz relatou que Lapid teria dito: “O assassinato de Shireen abu Akleh ameaça danos substanciais a Israel – diplomaticamente, no tribunal da opinião pública internacional e como um impulsionador de mais terrorismo”.

Como parte dos esforços israelenses para divulgar sua narrativa falsa, o porta-voz das forças de ocupação israelenses, segundo o relato de Horovitz, descreveu Shireen e outros jornalistas como terroristas portando suas próprias armas – câmeras para ajudar a transmitir a cobertura pró-Palestina. O porta-voz eria dito que eles “estão filmando e trabalhando para um meio de comunicação entre palestinos armados e estão armados com câmeras”.

Bennett tentou desesperadamente afirmar que Israel está “se acostumando a ver o mundo adotar as histórias dos palestinos como verdade absoluta”, então ele formou uma Diretoria de Diplomacia Pública “que não deixa o palco da mídia para as invenções e mentiras de nossos inimigos.” Ele disse que este órgão está trabalhando para orquestrar “melhores mensagens durante esta crise de relações públicas”.

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Todas as instituições oficiais e não oficiais israelenses estão envolvidas nesta batalha porque sabem que o mundo inteiro está assistindo. Horovitz disse que a narrativa israelense, de que Shireen poderia ter sido baleada por palestinos, foi inicialmente aceita no Ocidente, mas depois rejeitada. O Times of Israel divulgou a fala de um oficial da polícia israelense à emissora pública Kan de que “o mundo inteiro está olhando para nós”.

O ex-porta-voz do exército de ocupação israelense, Ofir Sofer, reiterou que Israel está envolvido em uma batalha de relações públicas. “Como ex-porta-voz da IDF, presumo (e espero) que você entenda muito bem a importância das relações públicas do Estado de Israel no mundo”, disse ele à mídia israelense.

Alguns israelenses acreditam que precisam justificar ao mundo a agressão israelense aos palestinos, e que cobrir essas agressões é perigoso para os jornalistas. Eles acreditam que isso poderia ajudar a apoiar a narrativa israelense.

“Israel precisa garantir que haja representantes falando na televisão e em outras mídias visuais sobre a necessidade das operações das FDI e o perigo que os jornalistas enfrentam nas zonas de combate”, disse o ex-porta-voz do exército israelense, Peter Lerner, ao Jerusalem Post.

Israel foi criado em uma mentira e vem disseminando mentiras para justificar sua existência e justificar sua contínua matança de palestinos, deslocando-os, roubando suas terras e propriedades e demolindo suas casas. O mundo e a mídia internacional foram cúmplices disso. Às vezes, quando Israel não consegue esconder seus crimes, deixa de produzir e promover suas narrativas falsas.

No caso de Shireen, não é a Al Jazeera que está criando notícias sobre ela, mas o brutal crime israelense que acabou com sua vida. Ela foi alvejada enquanto usava um colete à prova de balas exibindo claramente a palavra ‘Imprensa’ e um capacete enquanto estava em uma área aberta cercada apenas por jornalistas. Há imagens de vídeo e relatos de testemunhas oculares dos eventos do dia.

“Com todo o respeito a nós, digamos que a credibilidade de Israel não é muito alta nesses casos”, disse o ministro da diáspora israelense, Nachman Shai, à rádio israelense 103FM. “Nós sabemos disso. É baseado no passado”, acrescentou.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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