Soraya Misleh, pesquisadora brasileira de origem palestina, obteve doutorado em Estudos Árabes pela Universidade de São Paulo (USP), com recomendação de publicação. A tese da pesquisadora foi intitulada “Uma história das mulheres palestinas: dos salons aos primórdios da literatura de resistência”, sob orientação do professor-doutor Michel Sleiman.
O artigo discute a história das mulheres palestinas de meados do século XIX até a década de 1960, período que incluiu os principais eventos que mudaram a realidade na Palestina, durante os quais se manifestou histórica resistência palestina.
A tese de doutorado, discutida na última quarta-feira (11), também se concentrou na vida e na obra de pioneiras palestinas da literatura, das artes e da política, como May Ziada, Karima Abboud, Kulthum Odeh, Asma Toubi, Sathej Nassar, Hind Al-Husseini, Samira Azzam, Najwa Kawar e Fadwa Toukan.
Misleh disse: “As mulheres palestinas nunca ficaram em silêncio e continuarão a resistência histórica e heroica, como Shireen Abu Akleh, que foi covardemente assassinada pelos sionistas. Ela se juntou ao grupo de jornalistas que foram alvos das forças de ocupação a sangue frio, e não deixaremos de exigir justiça para ela, porque é justiça para todos nós”.
Em entrevista à Quds Press, Misleh disse que procurou, por meio de sua tese, narrar um aspecto importante da história das mulheres palestinas para desmantelar o estereótipo predominante no mundo de que as mulheres árabes em geral, e as mulheres palestinas em particular, são submissas e não faz parte do espaço público. “Portanto, eu queria que minha tese contasse uma história mais completa e realista sobre as mulheres da Palestina”.
Misleh falou sobre os desafios que enfrentou ao preparar sua tese: “Não foi fácil encontrar materiais traduzidos em inglês e espanhol sobre mulheres palestinas, ou mesmo em árabe. Não havia o suficiente sobre o assunto por causa das referências e dos documentos que foram perdidos devido à Nakba“.
Misleh explicou: “No meu mestrado, preparei um estudo sobre a aldeia do meu pai, de onde ele foi deslocado, que é Qaqun, a noroeste de Tulkarm, e depois o desenvolvi em um livro em português sobre a Nakba palestina em duas partes, a partir os testemunhos de alguns sobreviventes da cidade, incluindo meu pai”.
Ela enfatizou que “as mulheres palestinas na literatura da resistência são inseparáveis de sua luta contra a Nakba. Até mesmo as escritoras trabalharam diretamente nos movimentos de resistência”.
Misleh nasceu em São Paulo e se formou em Jornalismo. Depois, obteve um mestrado em Estudos Árabes pela Universidade de São Paulo. Ela é articulista do Monitor do Oriente Médio (MEMO), integra a rede de jornalistas Ciranda.net, o Comitê de Coordenação da Frente em Defesa do Povo Palestino e o Movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) no Brasil.