A decisão da cidade de Grenoble de permitir que mulheres usem o burkini — roupa de banho que cobre dos pés à cabeça — nas piscinas municipais deflagou uma enorme controvérsia em toda a França. O governo central descreveu a medida como “provocação”, segundo a agência de notícias Anadolu.
Nesta terça-feira (17), o Ministro do Interior Gerald Darmanin objetou a decisão da comuna sobre o burkini — habitualmente usado por mulheres muçulmanas —, ao descrevê-la como “provocação inaceitável da comunidade”.
“Aconselhei o prefeito a abordar a deliberação sobre o burkini conforme o secularismo e, caso necessário, requerer sua revogação”, declarou Darmanin no Twitter.
Conforme uma legislação de 2021, deferida para “respeitar os princípios da República”, sob o pretexto de combater o extremismo, serviços públicos devem “garantir compromisso com os princípios do secularismo e da neutralidade”.
Após a liberação de Grenoble, segundo votação realizada nesta segunda-feira (16), a prefeitura de Isère, onde situa-se a comuna, encaminhou sua contestação ao tribunal administrativo e ao Ministério do Interior, radicado em Paris.
As novas regras autorizam tanto o uso do burkini quando topless nas piscinas públicas, sem discriminação. Grenoble é a segunda cidade da França — após Reno — a adotar as medidas.
A proposta foi apresentada pelo prefeito da cidade, o ecologista Erick Piolle, e catalisou um turbilhão político, ao enfurecer partidos de extrema-direita e certas autoridades públicas, que descrevem o burkini como “veste islâmica” e adotam a teoria conspiratória e supremacista de “repressão do Islã” à civilização europeia.
Piolle promoveu a abolição de um código de vestimenta nos espaços públicos, dado que restringia o acesso a populações vulneráveis, como mulheres muçulmanas e transexuais.
No Twitter, o prefeito respondeu ao ministro francês, ao sugerir que “releia a legislação de 1905, ao invés de distorcê-la”.
A lei de 1905 determina a separação entre igreja e estado. Recentemente, políticos franceses passaram a adulterar o sentido de estado laico para discriminar a comunidade islâmica. Itens religiosos — sobretudo adotados por grupos minoritários, como o hijab — foram designados como incompatíveis aos “valores da República”.