Yossi Cohen, ex-diretor da agência de espionagem israelense Mossad, foi expulso da República Democrática do Congo em 2019, após suspeitas de conspirar por um golpe de estado contra o presidente do país, revelou nesta terça-feira (17) o jornal Haaretz.
Detalhes de sua visita foram encobertos até então por uma ordem de sigilo deferida pelas autoridades militares de Israel.
Segundo a agência de notícias israelense The Marker, o presidente Felix Tshisekedi ordenou pessoalmente a deportação de Cohen após a terceira visita do oficial israelense ao gabinete congolês, sob circunstâncias “controversas, problemáticas e — alguns diriam — ambíguas”.
Duas das visitas de Cohen foram expostas pela rede Bloomberg, acompanhado de Dan Gertler, bilionário israelense investigado pelo Reino Unido por supostamente pagar propina de US$360 milhões para obter licença de mineração no território africano.
Estados Unidos e da Suíça compartilham das suspeitas sobre Gertler. No final de 2017, todavia, Cohen interveio para revogar sanções da Casa Branca contra o empresário. As restrições foram enfim suspensas nas últimas horas da presidência de Donald Trump.
Segundo a Bloomberg, o presidente congolês jamais convidou Cohen a seu gabinete e foi surpreendido por sua presença reiterada.
A data específica da visita inaugural permanece incerta, mas a segunda ocasião remete a 9 de outubro de 2019, quando Tshisekedi voou no avião presidencial da cidade oriental de Goma à capital Kinshasa. Seu motorista e assessores foram mortos em um suposto acidente em outra aeronave que decolou pouco depois.
Na ocasião, Cohen indagou Tshisekedi sobre a possibilidade de consultar seu antecessor Joseph Kabila sobre assuntos de interesse israelense. Kabila é acusado de receber a propina milionária de Gertler e possui um relacionamento atribulado com Tshisekedi.
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Kabila e seu pai, Laurent Kabila, governaram o país por quase 25 anos.
Semanas depois, o diretor do Mossad fez sua terceira viagem ao estado africano, para uma reunião não-agendada com o presidente. “Cohen novamente adotou termos vagos sobre a cooperação entre as partes”, afirmou uma fonte. “Tshisekedi perdeu a paciência”.
Segundo o Haaretz: “A certa altura, o presidente congolês pediu a sua equipe que deixasse a sala para falar a sós com Cohen. Após um período breve, Cohen foi mandado diretamente ao aeroporto, sob escolta das forças de segurança, para deixar o país e não retornar”.
“Efetivamente, o diretor do Mossad foi deportado — medida humilhante e sem precedentes —, após uma série de encontros não-agendados”, concluiu o jornal israelense.