Abdel Hamid Dbeibeh, primeiro-ministro do governo reconhecido da Líbia, anunciou o que descreveu como “suicídio político do projeto de golpe de estado”.
Os comentários de Dbeibeh sucedem confrontos na capital Trípoli, entre tropas do Governo de União Nacional e forças paramilitares alinhadas ao parlamento apócrifo de Tobruk, que elegeu Fathi Bashagha como novo premiê.
Horas antes, Bashagha chegou à cidade para assumir posse.
Dbeibeh recusou-se a entregar o poder, exceto a um governo eleito conforme diretrizes do Fórum de Diálogo Político da Líbia, ao reafirmar: “Não há futuro sem eleições”.
A Organização das Nações Unidas (ONU) intermedia as conversas no Cairo, com o objetivo de chegar a um consenso sobre as bases constitucionais para prosseguir “o mais breve possível” com eleições legislativas e executivas no país norte-africano.
Dbeibeh consentiu em abrir um corredor de segurança para que Bashagha deixe a capital — “pela simples razão de que uma única gota de sangue líbio é mais importante que qualquer ganância ou autoridade”.
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“O governo continua a exercer seus deveres como única garantia de futuras eleições na Líbia”, reiterou o premiê. “O governo será mantido deste modo até que as eleições sejam realizadas”.
Em seguida, Dbeibeh assegurou aos diplomatas estrangeiros que a situação de segurança em Trípoli é “estável” e que a condução dos trabalhos pode avançar normalmente.
Na noite desta terça-feira (17), Bashagha convocou uma coletiva de imprensa na cidade de Sirte, no leste do país, na qual alegou ter deixado a capital para prevenir baixas.
“Não movemos forças ou usamos armas; pretendíamos chegar sozinhos sem qualquer escolta”, declarou Bashagha. “Não queremos derramamento de sangue; para mim, é impossível aceitar governar por meio de um massacre. Continuaremos a lutar até conquistarmos nosso objetivo; contudo, por meios pacíficos”.
Bashagha afirmou ter adentrado em Trípoli em dois veículos civis. O impasse prevalece desde março, quando o congresso em Tobruk o escolheu para destituir Dbeibeh.
“É meu direito, como primeiro-ministro eleito pela autoridade legislativa ir à capital”, reiterou. “O governo dará início a seus trabalhos amanhã, radicado em Sirte, e viajaremos a Trípoli caso tenhamos certeza de que nossa entrada não derramará uma única gota de sangue”.
No Twitter, Bashagha acusou o Governo de União Nacional de “adotar a força” para impedir a transferência de poder. “Apesar de entrarmos na capital sem uso da violência ou da força das armas, recebidos pelo povo de Trípoli, fomos surpreendidos pela perigosa escalada militar de grupos filiados ao governo cujo mandato expirou”.
O premiê alternativo acrescentou: “Pôr em risco a segurança de civis é um crime previsto por lei e não podemos contribuir para comprometer a segurança da capital e de seus residentes”.
Uma fonte da 444ª Brigada do Exército da Líbia afirmou à agência Anadolu que seu comandante escoltou Bashagha ao removê-lo da cidade. “A posição da brigada é clara sobre causar conflitos: Rejeiamos qualquer derramamento de sangue ou instabilidade no país”.
A Líbia é disputada por dois governos distintos e há receios de um retorno à guerra civil.
A ONU espera que eleições gerais possam colaborar com o fim do conflito, que aflige o país desde 2011, quando um levante popular e uma intervenção externa destituíram o longevo ditador Muamar Kadafi.