Judia antissionista quer respostas do ‘Labour’ por acusações de antissemitismo

O Partido Trabalhista do Reino Unido tornou-se alvo de pressão para conduzir um inquérito sobre atos de perseguição contra Diana Neslen, ativista judia e antissionista de 82 anos. Em dezembro, Neslen foi acusada de “antissemitismo” pela terceira vez em três anos.

A investigação trabalhista contra Neslen foi revogada em fevereiro, mas seus advogados ainda exigem respostas sobre a razão que levou à devassa em primeiro lugar. O escritório Bindmans LLP escreveu à cúpula partidária para demandar uma averiguação independente da campanha promovida contra Neslen — veterana militante trabalhista.

Segundo o Jewish Voice for Labour (JVL), o escritório voltou a contatar o partido para denunciar sua Unidade de Legislação e Governança (GLU) por “negar-se a investigar devidamente e/ou abordar as queixas [de Neslen], em respeito a políticas internas sobre assédio e perseguição”.

Os advogados reiteram que sua posição antissionista é protegida pelo Ato de Igualdade do Reino Unido, promulgado em 2010. O antissionismo, aponta a defesa, é um ponto de vista legítimo cuja incidência é mais comum entre judeus e palestinos — ou seja, justamente as comunidades mais afetadas pela ideologia sionista.

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Dessa maneira, prosseguiu o escritório, o assédio frequente a posições antissionistas equivale, na prática, à discriminação com base em etnia — incluindo a identidade judaica de sua cliente.

Conforme dados compilados pelo Jewish Voice for Labour, ao menos 52 trabalhistas judeus — dois dos quais falecidos desde então — enfrentaram ou enfrentam processos disciplinares por alegações relacionadas a “antissemitismo”.

Neslen é judia praticamente, mantém alimentação kasher e vai regularmente à sinagoga local. Entretanto, o partido britânico insiste em acusá-la de “antissemitismo” por tuítes com críticas legítimas às políticas adotadas pela ocupação israelense na Palestina histórica.

“A existência do Estado de Israel é um empreendimento racista e sou uma judia antirracista”, escreveu Neslen, em certa ocasião.

Neslen descrevia a si mesma como “sionista comprometida”, até uma visita à região mudar seu discernimento sobre o estado de apartheid. “Quero que a conversa continue, quero que o povo judeu seja livre para falar do antissionismo como é para falar do sionismo”.

“Não devemos silenciar aqueles de quem discordamos; embora o sionismo represente, para muitos judeus, uma noção de identidade, o mesmo pressuposto não vale para todos e todos temos direito a nossas opiniões”, acrescentou Neslen.

Os problemas da ativista veterana com o “Labour” começaram em 2018, após o partido adotar a controversa definição de antissemitismo da Aliança Internacional de Memória do Holocausto (IHRA), que equivale críticas a Israel à discriminação antijudaica.

Críticos — incluindo um dos primeiros redatores da proposta, Kenneth Stern — alertam que os conceitos promovidos pela IHRA se tornaram arma para silenciar eventuais oponentes políticos do projeto colonial sionista, em detrimento da liberdade de expressão.

Nos últimos quatro anos, porém, formou-se um consenso entre grupos de direitos humanos — como a Anistia Internacional e o Human Rights Watch — de que o estado israelense impõe um regime de apartheid sobre a população nativa da Palestina ocupada.

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