Três organizações não-governamentais (ongs) confirmaram nesta quinta-feira (2) registrar um processo em Paris contra três dos principais fabricantes de armas da França, por cumplicidade com crimes de guerra cometidos no Iêmen, após enviar produtos a Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos (EAU). As informações são da agência de notícias Reuters.
A queixa foi registrada pelas seguintes organizações: Centro Europeu de Direitos Humanos e Constitucionais (CEDHC), Associação Mwatana por Direitos Humanos e Sherpa Internacional.
O processo coincide com uma trégua em âmbito nacional entre os rebeldes iemenitas houthis, apoiados pelo Irã, e a coalizão comandada pela Arábia Saudita, que intervém no país. Trata-se da primeira trégua desde 2016, em vigor desde 2 de abril de 2022.
LEIA: Economia saudita ultrapassará US$ 1 tri pela primeira vez, diz FMI
Grupos de direitos humanos denunciam que o apoio tácito da França à coalizão postergou e agravou o conflito, cujo início remete a 2015, quando a monarquia vizinha decidiu interferir contra os houthis, a fim de restaurar o governo aliado, expulso da capital Sanaa.
As ongs registraram seu processo contra a Dassault Aviation, a Thales S.A. e a MBDA France, na esperança de manter o assunto em domínio público, em um contexto no qual Estados Unidos e aliados ocidentais buscam reaproximar-se da monarquia islâmica.
A Dassault Aviation e a MBDA France não comentaram a queixa até então. A Thales S.A. solicitou perguntas por e-mail; contudo, não respondeu.
“Os bombardeios da coalizão causaram terrível destruição no Iêmen”, advertiu Abdulrasheed al-Faqih, diretor executivo do grupo iemenita Mwatana. “Armas produzidas e exportadas por países europeus, sobretudo a França, permitiram esses crimes”.
“Após sete anos de guerra, as incontáveis vítimas no Iêmen merecem uma investigação confiável sobre os responsáveis por tais crimes, incluindo seus cúmplices”, acrescentou.
A promotoria europeia já pondera sobre denúncias semelhantes registradas contra o príncipe herdeiro de Abu Dhabi, Mohammed bin Zayed al-Nahyan, seu homólogo saudita, Mohammed bin Salman, e a autoridade aduaneira da França.
A trégua em curso conferiu uma centelha de esperança no Iêmen, assolado por violência e crise socioeconômica, que deixou milhões de pessoas à margem da fome. O armistício também pode oferecer a Riad e seus parceiros uma saída do oneroso conflito — regular fonte de tensões com a Casa Branca.