A retirada parcial de tropas russas da Síria foi um dos fatores determinantes para que a Turquia planejasse uma nova operação militar no país levantino, relataram fontes anônimas do exército turco à rede de notícias Middle East Eye, radicada em Londres.
As fontes reconheceram que o momento escolhido para a nova ofensiva no nordeste da Síria decorre parcialmente da remoção russa de soldados e mercenários de algumas bases no país, para realocá-los à invasão armada contra a Ucrânia.
“Não se trata apenas de que Rússia está atolada na Ucrânia”, reiterou uma das fontes. “Há preocupações de segurança e inteligência em Ancara sobre atividades do PKK [Partido dos Trabalhadores do Curdistão] na Síria [incluindo] recentes atividades do PKK para transferir novas tropas e munição do Iraque à Síria”.
O PKK é um grupo separatista curdo designado “terrorista” pela Turquia e por algumas nações ocidentais e, segundo relatos, combate ao lado de organizações da oposição síria, incluindo as Unidades de Proteção Popular (YPG) e as Forças Democráticas da Síria (FDS).
Outra razão primária para a incursão militar da Turquia, conforme as fontes, é a “necessidade” de evacuar uma área de 30 km de extensão no norte da Síria, com intuito de estabelecer uma “zona neutra” e reassentar ao menos um milhão de refugiados.
“As duas operações devem prosseguir simultaneamente”, reafirmou a fonte.
“Limparemos Tal Rifaat e Manbji”, prometeu o Presidente da Turquia Recep Tayyip Erdogan, ao anunciar sua operação em maio; ambas as cidades têm caráter estratégico, sob controle militar e administrativo das Forças Democráticas da Síria.
Segundo uma das fontes, Tal Rifaat representa um objetivo majoritário a Ancara, pois abarca 60% da água potável da região. “A gestão dos recursos hídricos e o regresso dos refugiados é fundamental para restaurar a agricultura e encorajar maior retorno”, declarou.
A diminuição da presença russa em Tal Rifaat – segundo maior contingente na região – facilita os planos da Turquia, admitiu a fonte. “Moscou está com dificuldades para reabastecer tropas em Tal Rifaat e já deixou algumas de suas bases perto de Aleppo aos iranianos”.
Diante da retirada, todavia, grupos paramilitares ligados a Teerã podem representar a principal ameaça aos planos de Erdogan, dado que buscam expurgar os arredores de Aleppo de rebeldes sírios, por sua vez, com apoio da Turquia.
Quanto a soldados do regime de Assad, a fonte alegou que Ancara não espera que representem uma ameaça substancial ou tentem repelir a operação turca.
Os comentários parecem confirmar o que muitos analistas preveem desde fevereiro, quando foi lançada a invasão na Ucrânia – isto é, a retirada russa da Líbia e da Síria e o decréscimo da influência do Kremlin no estado levantino em favor de Teerã.
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