Cerca de 99% dos funcionários do judiciário tunisiano aderiram ao segundo dia de greve contra uma determinação do presidente Kais Saied para exonerar 57 juízes, reportou nesta terça-feira (7) a Associação de Juristas da Tunísia. A paralisação deve durar ao menos uma semana.
Na última quarta-feira (1°), Saied promulgou um decreto para demitir agentes públicos sob alegações de corrupção e apoio a “organizações terroristas”. Os juízes negam as acusações.
Em resposta, a Associação de Juristas convocou a greve e pediu “ainda maior mobilização” para proceder com êxito. Autoridades tunisianas não comentaram sobre o funcionamento da justiça no presente contexto.
Na segunda-feira (6), Anas al-Hamaydi, presidente da associação, declarou em nota que 99% das equipes colaboraram com o primeiro dia de greve. Al-Hamaydi descreveu a participação como “sem precedente” e reiterou que o fim da paralisação é condicional ao recuo de Saied sobre a exoneração dos juristas.
Saied, entretanto, ordenou seu governo a descontar os dias de greve das remunerações.
Seu decreto para demitir membros do judiciário foi condenado por sindicatos e partidos políticos, além dos Estados Unidos e da Anistia Internacional.
A Tunísia sofre uma crise política desde 25 de julho de 2021, quando Saied depôs o governo, congelou o parlamento e assumiu poderes quase absolutos. Apesar da persistente crise que assola o país, Saied confirmou um referendo constitucional, previsto para o próximo mês, e antecipou as eleições legislativas para dezembro.
Opositores denunciam o presidente por golpe de estado. Diversos partidos confirmaram seu boicote ao “diálogo nacional” promovido por Saied, assim como ao referendo constitucional; outros atores foram meramente excluídos do processo.
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