Comecemos pelo fato mais relevante. A vitória obtida pela chapa Gustavo Petro e Francia Márquez; da coalizão social-democrata do Pacto Histórico teve 11.281.013 votos e 50,44% do total. Petro, ex-integrante da guerrilha nacionalista do Movimento 19 de Abril (M-19), obteve um aumento de 2.739.396 votos e um crescimento de 32,1% em relação ao primeiro turno. O ex-senador e ex-prefeito de Bogotá recebeu a maioria dos votos centristas, assim como importantes liberais, conservadores e setores políticos, cristãos, além de setores que estavam como abstencionistas.
A derrota no segundo turno foi da aliança de extrema direita de Rodolfo Hernández e Marelen Castillo da Liga de Governadores contra a corrupção. O ex-prefeito de Bucaramanga teve 10.580.412 votos equivalendo a 47,31% do total. Comparando ao primeiro turno, foi um crescimento de 4.615.077 votos e aumento proporcional de 77,4%. Na corrida eleitoral de duas etapas, conseguiu somar a maioria, mas não todos os votos das candidaturas de direita de Federico Gutiérrez que o apoiou com seu movimento (um uribismo discreto) e o dublê de engenheiro, senador e pregador pentecostal, John Milton Rodríguez.
O país está realmente dividido, porque a chapa Petro-Márquez venceu em 17 territórios, repetindo os do primeiro turno, a exceção de dois outros. Em Bogotá, obteve maioria, além das costas atlântica, no Pacífico, nas zonas de maioria afro-colombiana e na Amazônia. Já o ativista de extrema direita com milhões de seguidores no Tik Tok venceu em 16 territórios, repetindo os do primeiro turno. Conseguiu a esperada transferência de votos da conservadora Antioquia assim como outras tradicionais praças do uribismo (a versão do paramilitarismo na política oficial). O empresário foi líder nas regiões andinas, teve ampla margem nos redutos conservadores e minoria na Amazônia.
É importante lembrar que o ciclo das revoltas populares colombianas, as de 2019 e 2021, sedimentaram as bases para que uma parte dessa juventude sem perspectiva aceitasse até o “voto útil”. Segundo o Grupo Libertario Vía Libre – que organizou com maestria as informações e dados dos Registro Nacional do Estado Civil, o segundo turno contou com a participação de 58,09% do número total de eleitores. Isso representa 1.217.089 votos a mais e um aumento de 3,1% se comparado ao primeiro turno. Foi um importante crescimento na participação eleitoral, considerando as mais que justificadas desconfianças da cidadania do país de Manuel Marulanda para com o viciado sistema eleitoral oligárquico.
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Outro ponto importante, fundamental eu diria, além de diminuir os níveis de pobreza e de extrema pobreza (totalizando quase 50% da população), é mudar em parte o modelo econômico exportador. Junto da sanha por terras, um número de deslocados internos (mais de sete milhões de pessoas) e a presença de dois milhões de venezuelanos ampliam a margem de pessoas desassistidas. O total de “venecos” na terra de Camillo Torres ainda está em desvantagem aos mais de três milhões de colombianos no país vizinho e fortalece a ideia de complementaridade nas relações cotidianas. Idem se considerarmos a região de Táchira e outras zonas de fronteira como no território wayuu.
A dimensão estruturante da sociedade colombiana não é apenas o pacto oligárquico, pois entre as famílias mais abastadas e as forças imperiais (como CIA e DEA) tampouco há consenso. O problema de fundo é a violência estatal e paraestatal, quase sempre relacionada à uma economia de guerra interna e licenças pouco lícitas de exploração econômica (como nas zonas de mineração). Neste quesito do uso sistemático da força contra populações desassistidas, a diáspora árabe na América Latina tem especial interesse.
As relações Colômbia e Israel
Desde a primeira década do século XXI, ainda sob o governo do ex-líder das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), o ex-presidente Álvaro Uribe Vélez, que há uma intensa relação diplomática, comercial e com presença de “assessores especiais de Israel no país de García Márquez. O próprio Hugo Rafael Chávez Frías, ainda em vida e no auge de seu governo, afirmou essa perigosa tendência.
Em agosto de 2020, o herdeiro de Uribe e notório neoliberal com passagens por Washington, o ainda presidente Iván Duque, assinava um Tratado de Livre Comércio entre Bogotá e Tel Aviv. De maneira entusiástica, dizia que 97% dos produtos colombiana entraria no Apartheid Sionista sem pagar tributos. E, como é regra nas relações internacionais, haveria contrapartida vinda dos invasores da Palestina. Que tipo de reciprocidade seria?
Umm exemplo pode ser o emprego do fuzil Galil, de patente israelense, que além de ser a arma de emprego regular do Exército Colombiano, também é produzido no país de Raúl Reyes. Como se não bastasse, a aviação militar de nosso país vizinho tem caças Kfir em sua frota. A articulação se deu através de outro ex-presidente, Juan Manuel Santos, quando ainda era titular da pasta da Defesa do ex encarregado das aeronaves do Cartel de Medellín (Uribe novamente). Até 2001 isso não ocorria, mas no alinhamento do Plano Colômbia e com mais de 1 bilhão de dólares “investidos” lá pelo Departamento de Defesa, as relações mudaram. Com o triste fato da presença de tropas terrestres ostensivas subordinadas ao Comando Sul do Império, além de militares estadunidenses, outros “assessores” ali estão presentes.
Os intercâmbios não param, sendo que nos vinte primeiros anos do século XXI, milhares de colombianos haviam feito intercâmbio e treinamento do programa Mashav, promovido pelo Ministério de Relações Exteriores do Apartheid. A Colômbia se torna assim o país latino-americano com maior fluxo de cidadãos sob influência direta de professores e projeções de tipo soft power (nas áreas de tecnologia, medicina e agricultura, além de temas militares) vindas de europeus invasores da Cananeia de Issa.
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Desde a década de 1980 que a Esmeralda do Caribe tem a perigosa presença de mercenários e consultores sionistas. O “pioneiro” – ao menos publicamente conhecido – é Yair Klein, o tenente coronel israelense treinou e estabeleceu doutrina e emprego para as AUC, tendo antes uma tenebrosa passagem pelo Cartel de Medellín. Vale ressaltar que ambas as organizações estiveram sob a sombra da oligarquia antioquina e da família Uribe Vélez. Outro ex militar israelense de triste presença na Colômbia é Rafi Eitan.
Ainda em 2020 o Exército Colombiano publicava notícia entusiasta celebrando a presença de dez assessores israelenses, dando instrução para suas forças especiais. Considerando que boa parte destes profissionais militares sionistas depois vão para a iniciativa privada e que estes laços entre “camaradas de armas” costumam ser duradouros, a tendência é sempre de complementaridade entre a cooperação oficial, em um segundo momento a oficiosa mesmo que sob estória cobertura de relações privadas.
O reconhecimento necessário
Em maio de 2021 o então senador Gustavo Petro afirmou que “reconheço o povo Palestino, quero que exista um Estado Palestino”. Uma boa forma de materializar este discurso é suspender o TLC com o Apartheid Sionista e interromper todo e qualquer intercâmbio com os herdeiros da Palmach, Irgun e Stern ocupando as terras roubadas com a Nakba e a Naksa, influenciando ainda mais as já muito conturbadas forças militares colombianas. Isso seria um gesto imediato, tanto de afastamento do colonialismo no Bilad al-Sham como um recado para o Império e seu Comando Sul.
Quase todos os países latino-americanos sofrem de pressão interna do lobby sionista, pressão externa vinda dos EUA neste tema e tendem ou a reproduzir a “teoria do empate” ou a vergonhosamente se alinharem com os ocupantes. No caso da Colômbia, o país sofre diretamente a ação dos especialistas militares invasores da Palestina e pode dar uma virada neste modus operandi tenebroso.
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