Najib Mikati foi nomeado Primeiro-Ministro do Líbano nesta quinta-feira (23), ao reivindicar de políticos sectários que ponham as diferenças de lado para assegurar um acordo entre o estado levantino e o Fundo Monetário Internacional (FMI), com intuito de superar o colapso fiscal que afeta gravemente a população.
As informações são da agência de notícias Reuters.
Diante de um caminho tortuoso para compor um governo, o bilionário e ex-premiê por três mandatos insistiu que o Líbano não tem tempo para “afogar-se em condições e demandas” sobre as posições ministeriais.
“Enfrentamos uma escolha entre o colapso absoluto ou uma salvação gradual”, reiterou Mikati, ao defender o acordo de US$3 bilhões com o FMI, condicional a reformas há muito postergadas pela elite política.
Em três anos de crise, a moeda nacional desvalorizou mais de 90% em relação ao dólar, a população mergulhou na pobreza, o sistema financeiro foi paralisado e poupanças foram congeladas. O colapso é comparado somente à guerra civil no Líbano, entre 1975 e 1990.
Estados doadores exigem reformas para combater as raízes do problema, incluindo décadas de desperdício e corrupção, para que então possam encaminhar recursos.
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“Perdemos tempo demais e chances demais de assistência de nossos amigos e irmãos, cuja posição sempre foi clara: Se ajudem para que possamos ajudá-los”, acrescentou o magnata muçulmano, nascido na cidade de Trípoli.
Para avançar nas negociações com agentes externos, Mikati instou o legislativo a aprovar reformas submetidas pelo governo prévio, incluindo emendas na regulação bancária e no sistema de controle de capital.
Mikati foi escolhido primeiro-ministro por 54 dos 128 parlamentares, incluindo representantes políticos do Hezbollah, proeminente movimento xiita alinhado a Teerã, conforme negociações com o presidente maronita Michel Aoun.
Todavia, as fraturas no tecido sociopolítico do Líbano devem atravancar os esforços de Mikati para compor um governo e o processo pode demorar meses, em meio a disputas faccionárias sobre cargos públicos e eventuais acordos.
Analistas e políticos esperam que o processo de escolha de ministros seja protelado ainda por divergências sobre a sucessão de Aoun, chefe de estado ligado ao Hezbollah, cujo mandato se encerra em 31 de outubro.
Fraturas no Parlamento
As eleições gerais de maio resultaram em um parlamento extremamente polarizado. O Hezbollah pesadamente armado e seus aliados perderam maioria; novatos reformistas ganharam espaço. Além disso, o grupo cristão Forças Libanesas, ligado à Arábia Saudita, reconquistou assentos.
O sistema sectário do Líbano prevê que o premiê seja sunita. Em contrapartida, o presidente da república é cristão maronita e o presidente do parlamento é muçulmano xiita.
Este mesmo parlamento será incumbido de eleger o novo presidente, além de negociar ministérios. Neste entremeio, muitos congressistas, incluindo representantes do Hezbollah, buscam apressar a formação de um gabinete de governo.
“Esperamos não cair na lógica de escolher um presidente sem governo algum”, insistiu Samy Gemayel, chefe do partido cristão Falanges Libanesas (Kataeb). “Não podemos aguentar por mais quatro meses, dada a situação em que nos metemos”.
Como reflexo do cenário político contemporâneo, Mikati assegurou cerca de vinte votos a menos do que da última vez em que foi designado ministro, em setembro.
Quarenta e seis deputados se abstiveram de qualquer indicação. Nawaf Salam, ex-embaixador do Líbano na Organização das Nações Unidas (ONU) e juiz do Tribunal Internacional de Justiça, recebeu 25 votos.
Um acordo com o FMI é considerado por economistas como primeiro passo para atenuar a crise, que culminou na escassez de insumos básicos, como combustível. No entanto, a elite política discorda sobre detalhes, incluindo como distribuir um prejuízo estimado em US$70 bilhões do sistema financeiro.