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Mundo comemora 104° aniversário de Nelson Mandela

Estátua de Nelson Mandela no pátio da Penitenciária Victor Verster, onde o líder sul-africano passou seus últimos anos de cárcere, na Cidade do Cabo, 4 de dezembro de 2020 [Xabiso Mkhabela/Agência Anadolu]

Milhões de pessoas em todo o mundo recordaram da figura de Nelson Mandela, um dos mais reverenciados estadistas do último século, que faria 104 anos nesta segunda-feira (18).

Em 2009, a Organização das Nações Unidas (ONU) separou 18 de julho como Dia Internacional de Nelson Mandela, com intuito de celebrar seu legado na luta contra o racismo e o apartheid.

Para honrar Mandela e sua testamento à humanidade, milhares de sul-africanos de todos as classes decidiram dedicar 67 minutos de seu tempo para as causas sociais. Os 67 minutos de voluntariado referem-se ao número de anos que Mandela passou no serviço público.

Dia Internacional de Nelson Mandela [Sabaaneh]

“Vou doar jaquetas e cobertores para ajudar os desabrigados, que não podem arcar com esses itens essenciais”, destacou Maria Lerato, residente do distrito de Kensington, em Joanesburgo, à agência Anadolu. É inverno na África do Sul e Lerato crê que suas doações serão oportunas à população carente.

Muhammed Desai, diretor do grupo de direitos humanos Africa 4Palestine, observou que sua entidade dedicará sua agenda desta segunda-feira para relembrar o espírito internacionalista de Mandela – notório apoiador da causa palestina.

Certa vez, disse Mandela: “Sabemos muito bem que nossa liberdade é incompleta sem a liberdade do povo palestino”.

Nascido na aldeia de Mvezo, na província de Cabo Oriental, Mandela passou 27 anos na prisão por sua oposição e resistência ao regime de apartheid. Em 1994, após a dissolução do governo racista, Mandela se tornou o primeiro presidente eleito democraticamente da África do Sul.

Apesar de seu encarceramento por décadas, o líder sul-africano não costumava demonstrar rancor ou ressentimento a seus opressores. Ao contrário, escolheu um discurso de perdão e reconciliação para restabelecer a união no país.

Sua abordagem culminou no Prêmio Nobel da Paz de 1993.

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“O espírito de Nelson Mandela incentiva o povo palestino, que ainda luta por sua liberdade contra o apartheid israelense”, acrescentou Desai. “De certo modo, Mandela está presente todos os dias nas ruas da Palestina ocupada, à medida que a população busca seu lugar por direito e sua legitimidade”.

O atual presidente sul-africano Cyril Ramaphosa deve comandar as comemorações do Dia de Nelson Mandela na cidade de Gqeberha, em Cabo Oriental. Em sua agenda, há também uma visita a uma instalação de tratamento de água e uma inspeção a obras de saneamento do rio Swartkops, na região de Veeplaas.

Diversos ministros, chefes de missões diplomáticas e empresários participaram da limpeza de rodovias e de atos de voluntariado em hospitais, orfanatos, escolas e outras.

A Embaixada da Turquia prometeu doar itens de higiene a asilos locais.

Todo dia é Dia de Mandela

Saber Ahmed Jazbhay, proeminente advogado sul-africano, diz que todo dia é Dia de Mandela e que não espera 18 de julho para fazer o bem. “Faço o mesmo que fiz minha vida toda, ao ajudar as pessoas que procuram minha ajuda”, comentou Jazbhay por telefone.

Durante o auge da luta sul-africana contra o apartheid, na década de 1980, Jazbhay costumava fornecer serviços a prisioneiros carentes. “Portanto, nada mudou; o Dia de Mandela é todo dia para mim”, enfatizou o advogado.

Mustafa Mheta – professor da Universidade Nacional da Somália de diretor regional do think tank Media Review Network, radicado em Joanesburgo – reafirmou que muitos sul-africanos ainda consideram Mandela como um paradigma a ser seguido; outros, porém, abandonaram seu legado, advertiu o acadêmico.

“Começamos a ver uma onda de crimes de ódio, como xenofobia e afrofobia, que não vimos durante o período de Tata Mandela”, declarou Mheta, ao reforçar seu apelo por tolerância e igualdade. “Tata” é a palavra em xhosa para “pai”.

Mheta insistiu que a atual liderança do partido governante – o Congresso Nacional Africano (CNA), certa vez comandado por Mandela – parece afastar-se das expectativas de seu ícone.

Acusações de corrupção chegaram a diversos membros de alto escalão do tradicional partido sul-africano. Diversas figuras de destaque renunciaram de seus cargos para tentar restaurar a imagem do movimento político.

Pobreza, desemprego

Em entrevista à agência Anadolu, Iqbal Jassat – membro executivo do Media Review Network – constatou: “A África do Sul é assolada hoje pelo medo, devido à criminalidade, o que fomenta a noção de que o Congresso Nacional Africano não soube governar”.

Segundo Jassat, a crise é somada por índices aterradores de pobreza, desemprego, falta de habitação adequada e desigualdade social.

Jassat insistiu que, a menos que o Dia de Mandela seja capaz de reconectar a liderança política aos ideais libertários e humanistas de seu principal estadista, a África do Sul não será capaz de honrar seu legado.

“Lamentavelmente, o Dia de Mandela foi apropriado por muitas pessoas, pelas mais diversas razões, incluindo motivações comerciais”, alertou Jassat. “De modo trágico, isso reflete como nos afastamos do enorme legado de resistência de Nelson Mandela”.

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