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Visita de Biden a Israel e Cisjordânia reforça raízes do paradigma humanitário

Presidente dos Estados Unidos Joe Biden é recebido pelo Presidente de Israel Isaac Herzog e pelo primeiro-ministro Yair Lapid, no Aeroporto Ben Gurion, perto de Tel Aviv, em 13 de julho de 2022 [Governo de Israel/Agência Anadolu]

Quando a liderança da Autoridade Palestina correu para apoiar o paradigma dos Estados Unidos sobre o status quo, deveria ter se lembrado da dedicação do atual presidente democrata Joe Biden ao projeto sionista e à colonização israelense da Palestina histórica. Ao pousar no aeroporto de Tel Aviv na última quarta-feira (13), para uma visita de dois dias sucedida por uma breve passagem na Cisjordânia ocupada, reafirmou Biden: “É uma enorme honra ser parte da história deste país. Digo novamente, não é preciso ser judeu para ser sionista”. Tamanha história a ser celebrada – lembremos – foi construída sobre uma narrativa distorcida e sobre a limpeza étnica do povo palestino.

A imprensa israelense descreveu com clareza as incongruências na visita de Biden. Em Israel, o presidente se encontrou com líderes nacionais, foi apresentado a sistemas modernos de segurança e repressão e visitou o Memorial do Holocausto de Yad Vashem – construído perto das ruínas de Dei Yassin, aldeia notória por um hediondo massacre cometido por gangues sionistas durante a Nakba (ou “catástrofe”) em 1948. A ironia é precisa. Em severo contraste, na Cisjordânia ocupada, Biden se encontrou com o Presidente da Autoridade Palestina Mahmoud Abbas e visitou um hospital para cidadãos árabes no território ocupado de Jerusalém Oriental. Superarmos o paradigma humanitário na Palestina ocupada é essencial – afinal é um problema político em seu âmago. Não obstante, a Autoridade Palestina continua a aceitar migalhas assistenciais que servem apenas para legitimar a impunidade israelense. A rede Axios, por exemplo, reportou que Biden prometeu US$100 milhões a hospitais palestinos

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O socorro humanitário mudou em nada a vida dos palestinos sob ocupação, mas somente exacerbou a violência colonial adotada por Israel contra a população nativa, com plena consciência de que a comunidade internacional financiará parcialmente a recuperação dos danos causados pela própria ocupação. Prometer ajuda a hospitais palestinos, embora fundamental para sobrevivência, no entanto, é evidência de como Washington está disposto a proteger Israel em meio a suas reiteradas violações da lei internacional. Não é possível esquecer as dezenas de milhares de cidadãos palestinos que precisam de cuidados médicos como resultado direto da violência colonial e do terrorismo de estado.

Para a Autoridade Palestina, o jargão assistencial é comprovadamente uma forma de evitar que Abbas tenha de deixar sua zona de conforto. O gesto de Biden também reforça o controle do Ministro da Defesa de Israel Benny Gantz sobre a liderança da Autoridade Palestina, ao preservar a subserviência política e subjugar continuamente a população árabe. Autorizações de trabalho não equivalem a liberdade alguma e o fato de que o povo palestino tem de renunciar a seus direitos em nome da subsistência diz muito sobre o vazio na liderança efetiva deixado pela Autoridade Palestina, além de sua dependência a Israel para que mantenha seu trono ilegítimo e subalterno na cidade de Ramallah. Gantz, enquanto isso, celebrou Biden como “verdadeiro amigo de Israel”.

De acordo com o presidente americano, a concessão de dois estados “continua o melhor caminho para assegurar um futuro de medidas iguais de liberdade, prosperidade e democracia para israelense e palestinos”. Desde sua posse, em janeiro de 2020, a retórica sobre “igualdade” se tornou lugar comum nos discursos do Secretário de Estado Antony Blinken, muito embora suas promessas vagas jamais tenham se materializado em campo. Evidentemente, o colonialismo de Israel permanece no caminho, assim como a concessão de dois estados impede um processo de descolonização.

Até então, Washington conseguiu manter a Autoridade Palestina na coleira ao convencer Israel a fazer magérrimas concessões a sua subsistência – tática tão exaltada por Abbas e seus asseclas como suposto prelúdio das negociações. A Autoridade Palestina adotou o mesmo método quando Biden foi eleito e o presidente palestino se curvou despudoramente para obter pequenos favores da Casa Branca. Ao contrário, seria razoável supor que Biden meramente manteria o legado de seu antecessor Donald Trump, ao sabotar a questão palestina e conservar a velha retórica falaciosa de “solução de dois estados”.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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