Todos os anos, o grande escritor palestino Ghassan Kanafani escrevia e ilustrava um livro para Lamis, sua amada sobrinha, como presente de aniversário. Quando ela completou oito anos, ele a presenteou com O pequeno lampião, uma história que narra os desafios enfrentados por uma jovem princesa que, para se tornar rainha, deve levar o sol para dentro do palácio.
Como toda boa história para crianças, é uma narrativa com muitas e muitas camadas que, como disse o próprio Kanafani em sua dedicatória para Lamis, “crescerá com você à medida que você for crescendo”.
No prefácio do livro, Anni Kanafani – esposa do autor – comenta a relação de Ghassan e Lamis:
“Ao longo de toda sua vida, ela foi sua musa. A relação dos dois era muito sincera, como se houvesse um fio que os conectava um ao outro — até na morte. Eles foram mortos pela mesma bomba naquela manhã de sábado em Beirute em julho de 1972. Ghassan e Lamis estão enterrados à sombra de árvores onde a terra é vermelha como o solo da Palestina. Eles deixaram seu livro, O pequeno lampião, para que vocês o leiam.”
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A edição brasileira, publicada este ano pela editora Tabla, conta com a tradução de Michel Sleiman e reproduz o manuscrito e as ilustrações originais de Kanafani, tudo incorporado em um sensível projeto gráfico desenvolvido por Marcelo Pereira, da Tecnopop.
Sobre o autor:
Ghassan Kanafani foi um autor e ativista político palestino, cofundador da Frente Popular para a Libertação da Palestina e um dos maiores expoentes da literatura e do jornalismo árabe.
Nascido em Acre, no norte da Palestina, em 9 de abril de 1936, o escritor viveu em Jaffa até maio de 1948, quando foi forçado a se refugiar com a família no Líbano e em seguida na Síria. A partir de 1960, passou a viver e trabalhar na cidade de Beirute, onde foi assassinado, no dia 8 de julho de 1972, junto com sua jovem sobrinha Lamis, por um atentado à bomba planejado por agentes israelenses.
Entre seus escritos estão uma infinidade de romances, contos, peças teatrais e artigos que versam sobre cultura, política e a luta do povo palestino. Seus trabalhos foram traduzidos para diversos idiomas e publicados em mais de vinte países.
Sobre o tradutor:
Poeta, editor, tradutor, professor, Michel Sleiman nasceu em Santa Rosa, Rio Grande do Sul, e mora em São Paulo desde 1991, onde ensina Língua e Literatura Árabes na Universidade de São Paulo (USP) e orienta estudos de pós-graduação em Letras Estrangeiras e Tradução.
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É também coordenador de um grupo de tradução da poesia árabe, que reúne pesquisadores interessados na transposição crítico-criativa dessas obras ao sistema literário brasileiro. Além disso, desenvolve estudos em tradução crítica do Alcorão e da poesia oriental e andalusina.
De Michel Sleiman, são os ensaios e traduções de A poesia árabe-andaluza: Ibn Quzman de Córdova (Perspectiva, 2000), A arte do zajal (Ateliê, 2007) e Poemas/Adonis (Companhia das Letras, 2012). Editou Tiraz – revista de estudos árabes e das culturas do Oriente Médio (USP) entre 2004 e 2016 e co-editou dois números da revista Criação & Crítica (USP). Como poeta publicou San Tá Cidade (1984), O Quarto Moviment e E da rosa? (UFSM, 1985), Do amor e da areia (1993) e Ínula Niúla (Ateliê, 2009). É curador da editora Tabla.
Publicado originalmente em Editora Tabla