“A Companhia Internacional do Canal Marítimo de Suez fica nacionalizada como uma sociedade anônima egípcia, e todos os seus fundos, direitos e obrigações serão transferidos para o estado, e todos os órgãos e comitês atualmente responsáveis por sua administração serão dissolvidos.”
Com esta declaração proferida na frase na Praça Manshiyat, em Alexandria, o então presidente egípcio Gamal Abdel Nasser anunciou sua histórica decisão de nacionalizar o canal.
A obra tivera início em 25 de abril de 1859 e, após dez anos para a extração de 74 milhões de metros cúbicos de terra, as águas brancas e vermelhas dos dois mares convergiram, formando a cobiçada artéria vital para a navegação global, a um custo de 433 milhões de francos, ou seja, o dobro do que se estimava.
O canal foi inaugurado com pompa, em uma cerimônia lendária, em 17 de novembro de 1869, na presença de seis mil convidados, liderados pela Imperatriz Eugênia, esposa de Napoleão III da França, ao lado de reis, príncipes, diplomatas e personalidades internacionais.
Única ligação entre o Mediterrâneo e o Mar Vermelho e principal escoadouro de petróleo dos países árabes para a Europa, o Canal de Suez, ficara sob o controle de capitais privados de origem principalmente britânica e francesa.
Antes da nacionalização, Nasser havia esperado, por muito tempo, um empréstimo americano para a construção da Barragem de Assuã. Mas a Casa Branca temia que o líder egípcio pudesse apoiar os soviéticos na Guerra Fria e reteve o dinheiro.
Após a decisão de Nasser, o Egito foi submetido a um feroz ataque colonial, que começou com uma tentativa de sufocar a economia egípcia pela retirada dos técnicos estrangeiros que trabalhavam no canal para interromper o fluxo do trabalho e atrapalhar a navegação, constrangendo o Estado egípcio pela incapacidade de administrar o canal.
As coisas pioraram, culminando com o lançamento da agressão tripartite pela França e Grã-Bretanha, com a ajuda de Israel, que invadiu o Sinai, península pertencente ao Egito. Em novembro as tropas britânicas e francesas ocuparam a região e assumiram o controle militar sobre o canal.
O ataque colonial, porém, teve impacto negativo junto à opinião pública mundial com diversos países se colocando contra a agressão. Quando os paraquedistas britânicos começaram a pousar em Port Said, e os transportadores de tropas avançaram para iniciar a invasão terrestre, e a resistência popular irrompeu nas ruas de Port Said.
Londres foi tomada de manifestações contra a guerra, e a polêmica grassava nos corredores das Nações Unidas sobre um cessar-fogo.
Na noite de 6 de novembro, Londres e Paris anunciaram a aceitação de um cessar-fogo e a retirada de suas forças do Egito, dando a Nasser uma grande vitória política, após a qual ele se tornou um líder nacional árabe. Historiadores escrevem sua decisão de nacionalizar o canal e a subsequente agressão como um marco final da era dos impérios francês e britânico. Além disso, o fato revelou as ambições israelenses em relação ao Sinai e a forte aliança de Moscou com o Cairo.
Arquivos do Oriente Médio: A Revolução Argelina (1954 – 1962)