Rached Ghannouchi – líder do partido Ennahda e ex-chefe do parlamento tunisiano – reiterou que o referendo constitucional promulgado pelo presidente Kais Saied representa uma “farsa” rechaçada por três quartos da população.
Em entrevista concedida nesta terça-feira (26) à rede Al Jazeera, reiterou Ghannouchi: “Os procedimentos constitucionais são ilegais e têm como objetivo impor um regime ditatorial como já vimos na Tunísia, antes da revolução popular”.
Saied convocou um referendo para estabelecer uma constituição própria em lugar do texto oriundo do processo democrático que derrubou a autocracia de Zine el-Abidine Ben Ali, em janeiro de 2011, no contexto da Primavera Árabe.
Em referência à abstenção do eleitorado tunisiano, Ghannouchi destacou que “75% da população não respondeu ao chamado de Saied”.
“O povo tunisiano resistiu e continuará a resistir à ditadura, pois vivenciamos por dez anos nossa liberdade e não iremos sacrificá-la, embora a última década não tenha sido perfeita”, acrescentou o ex-presidente do parlamento.
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Sobre as alternativas da oposição após a “vitória” do referendo de Saied, insistiu Ghannouchi: “Continuaremos, junto do povo, de suas forças ativas e da juventude, a seguir o caminho para restaurar a democracia”.
Saied aprovou seu referendo com mais de 90% dos votos, apesar do baixíssimo comparecimento. A oposição boicotou em massa o pleito em questão.
Segundo Ghannouchi, o presidente ultraconservador (sem partido) deve agora formalizar uma legislação eleitoral “para determinar as regras do jogo, dado que está ávido em controlar cada parte do processo político”.
“Saied deve aprovar uma lei que garante que seus apoiadores vençam as eleições e que exclua certos partidos, como o movimento Ennahda”, afirmou Ghannouchi. Até então, as autoridades não comentaram as acusações do veterano oposicionista.
Analistas advertem que a nova Constituição representa uma ameaça à breve democracia na Tunísia, ao expandir poderes do executivo em detrimento do legislativo e judiciário. O texto remove ainda contrapesos aos poderes da presidência.