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Documentando a história palestina: Os velhos não morrem, os jovens não esquecem

Nayef Turaani jamais visitou sua aldeia na Palestina pois sua família foi expulsa durante a Nakba; contudo, coleta informações sobre seu passado para manter a memória viva

Nayef Mustafa Suleiman Turaani é um refugiado palestino natural da aldeia de Samakh, situada historicamente no distrito de Tiberias. Nayef nasceu em 1955 em al-Hamma, na região da tríplice fronteira entre Palestina, Síria e Jordânia, após sua família ser deslocada de Samakh em virtude da Nakba ou “catástrofe” – como é descrita a criação do Estado de Israel, mediante limpeza étnica, em maio de 1948. Sua família se mudou a Jobar, a apenas cinco quilômetros de Damasco, capital da Síria, e enfim se assentou no campo de refugiados de Yarmouk – cuja população é majoritariamente palestina. Nayef começou seus estudos em escolas da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), instaladas em Yarmouk, em 1962. Mais tarde, estudou engenharia civil na universidade e se juntou às fileiras da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), como parte da reação binacional contra a invasão militar israelense no território libanês.

Nayef recorda o expurgo da resistência no Líbano, após dias de cerco militar na capital Beirute. “Fomos surpreendidos pela decisão de deixar o país e se tratava claramente de uma conspiração para desmantelar a revolução palestinas. As facções de resistência partiram a diversos países. De minha parte, retornei à Síria, onde vive a minha família. Deixamos Beirute à tarde e chegamos em Tartous ao anoitecer. Milhares nos receberam nas praias de Tartous. Muitas pessoas nos perguntavam de seus filhos e seus entes queridos. Algumas tinham fotografias e nos perguntavam se havíamos visto seus parentes. Carregamos alguns ônibus e partimos em direção à base militar de al-Dhanin, a leste de Damasco. Aqueles que quiseram receberam identidades novas e as armas que tínhamos foram entregues”.

A princípio, segundo Nayef, seu grupo de combatentes da liberdade sentia-se como se estivessem “perdidos”, sem a posse de suas armas às quais estavam tão acostumados, após cem dias consecutivos de batalhas. “Nossas vidas eram nada menos que disposição ao sacrifício e mesmo à morte em nome de nossa terra”.

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Após catorze dias junto de sua família em Yarkmouk, Nayef apresentou-se no aeroporto militar de Khalkhala, ao sul de Damasco, a pedido do governo sírio. Em 1983, mudou-se para a Jordânia, onde trabalhou como engenheiro. Desde sua aposentadoria, Nayef busca escrever a história de Samakh – a aldeia natal de sua família. Nayef reafirma que sua relação com a história mudou muito após o falecimento de seu pai, quando passou a exercer um papel mais proeminente na família e aprender mais e mais sobre sua história.

“Coletamos fotografias e documentos que eu e as pessoas de Samakh guardamos, incluindo o convite de casamento do meu pai, certidões de nascimento dos habitantes da aldeia e escrituras de terras”, reporta Nayef. “Tudo isso, tenho nos meus arquivos”.

“Meu desejo de escrever e documentar nossa história cresceu desde então e comecei a procurar pelos idosos que nasceram na aldeia e viveram lá antes da Nakba”.

Samakh foi integralmente destruída, mediante limpeza étnica, em 1950. Apenas três marcos de basalto sobrevivem no local, além de traços de trilhos, vagões e uma estação ferroviária e destroços da antiga loja de Hassan Saeed al-Damwani. “Os sionistas instalaram nove assentamentos nessa terra: Kinneret, Dajania Elif, Dajania B, Beit Zeira, Afokim, Ashdot Yaakov, Sa’ar Hagolan, Masada e Memghan”. A aldeia árabe de Samakh não existe mais.

Em 1946, em torno de três mil palestinos viviam no local; dentre os quais, figuras de destaque, como o falecido Fayez Qandil, o ativista político Khaled al-Tar’ani e Saleh Hawari, Mahmoud Mufleh e Yahya Khalaf e Falah Madi – ex-vice-presidente da Ordem dos Advogados da Jordânia.

Ao pesquisar sobre a história de sua aldeia, Nayef descobriu que grupos paramilitares sionistas tentaram comprar as terras dos residentes palestinos, que negaram a oferta. Para tentar convencê-los à força, as gangues sionistas sequestraram o filho do mukhtar de Samakh – isto é, o chefe da comunidade. Quando os terroristas foram negociar o resgate – o menino pelas terras –, Suleiman Turaani afirmou considerar que seu filho fora morto e recusou as condições.

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“O que chamou minha atenção foi o respeito às mulheres, que tinha todos os direitos”, observa Nayef. “Escrevi sobre a revolução das mulheres e sua vigília contra a ocupação durante a agressão tripartite em Porto Said, no Egito”.

“A atual ocupação israelense e antiga potência colonial britânica tentaram subjugar a população palestina, exterminar sua justa causa e roubar suas terras; no entanto, fracassaram”, reafirma Nayef. “As ondas de normalização com regimes árabes e mesmo alguns partidos palestinos também não obtiveram êxito em marginalizar a causa palestina. Ao contrário, vemos uma geração de sobreviventes da Nakba ainda mais fortes que seus pais e seus avôs”.

Seu trabalho para coletar e arquivar memórias de sua aldeia e da Palestina histórica como um todo é parte da resistência. “Por meio do processo de arquivamento, documentação e divulgação dessas histórias, os velhos não morrerão e os jovens jamais se esquecerão”.

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