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Arábia Saudita condena ativista por direitos das mulheres a 34 anos de prisão

Salma al-Shehab [Syribelle/Twitter]

A Arábia Saudita condenou Salma al-Shehab – militante do movimento feminista, mãe de dois filhos e doutoranda da Universidade de Leeds, no Reino Unido – a 34 anos de prisão. Trata-se da maior pena deferida a uma ativista pelos direitos das mulheres pela infame Tribunal Penal Especializado (SCC).

O episódio marca uma nova escalada de Mohammad bin Salman – príncipe herdeiro e governante de facto da Arábia Saudita – contra a dissidência em seu reino.

Segundo a organização de direitos humanos Freedom Initiative, radicada em Washington, al-Shehab foi presa durante um feriado de janeiro em 2021, dias antes de sua viagem ao Reino Unido, onde reside. Segundo relatos, al-Shehab recebeu pena de seis anos de prisão por seu ativismo nas redes sociais.

Contudo, após recurso do judiciário da monarquia, sua sentença foi estendida a 34 anos de prisão e mais 34 anos de proibição de viagem.

O veredito mencionou as contas nas redes sociais de al-Shehab, onde reivindicou que a ativista Loujain al-Hathloul fosse libertada pelas autoridades da monarquia.

“A Arábia Saudita se vangloria ao mundo de supostas melhorias nos direitos das mulheres e reformas legais, mas não há dúvida, diante desta sentença hedionda, de que a situação está piorando”, comentou Bethany al-Haidari, diretora da Freedom Initiative para o caso saudita.

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Al-Haidari acredita que a recente viagem do Presidente dos Estados Unidos ao país empoderou bin Salman: “Lamentavelmente, não é surpresa que ele se sente mais fortalecido do que nunca, ao presidir sobre tais egrégias violações de direitos. Sem medidas genuínas para responsabilizá-lo, a visita de Biden a Jeddah e os braços abertos da comunidade internacional devem ser a bin Salman como uma luz verde”.

Al-Haidari aludiu ainda à ironia de que a soltura de Loujain al-Hathloul fora celebrada, mesmo embora al-Shehab tenha sido condenada precisamente por demonstrar solidariedade à então prisioneira e reivindicar sua liberdade.

“É um padrão das autoridades sauditas garantir que ativistas pelos direitos das mulheres não possam celebrar ou levar crédito por suas duras vitórias”, declarou al-Haidari.

A sentença severa contra al-Shehab alimenta receios ainda maiores sobre o judiciário saudita e a política ocidental em relação à monarquia. A decisão sucede em um mês a visita de Joe Biden, que prometera ser mais incisivo contra bin Salman, ao descrever o regime como “estado pária”.

As críticas do então candidato democrata à presidência americana citaram ainda o assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi, dentro do consulado do reino em Istambul, em outubro de 2018. A Agência Central de Inteligência (CIA) concluiu que bin Salman encomendou o crime.

Todavia, ao pousar em Jeddah, o presidente saudou calorosamente o príncipe herdeiro com um “fist bump” – cumprimento de punho fechado equivalente a um aperto de mãos, que se tornou comum durante a pandemia de covid-19.

O Tribunal Penal Especializado foi criado em 2008 sob pretexto de analisar casos de terrorismo. No entanto, tornou-se notório nos últimos anos por perseguir críticos do governo e ativistas de direitos humanos.

A Arábia Saudita – como seus aliados regionais, sobretudo Egito e Emirados Árabes Unidos – é acusada de adotar acusações de terrorismo como arma contra seus dissidentes, em particular, após as revoluções árabes de 2011, que pediam por democracia.

Governos ocidentais costumam lavar as mãos diante da escalada autoritária de seus parceiros estratégicos na região.

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