Assim que a Turquia e Israel anunciaram o retorno às relações diplomáticas plenas após 20 anos de tensões, os israelenses começaram a investigar as causas do que descreveram como uma mudança repentina nas relações turcas com Tel Aviv. Eles estão tentando antecipar o futuro desse desenvolvimento que coincide com muitos desenvolvimentos regionais e internacionais, incluindo a guerra ucraniana, o acordo nuclear com o Irã e a iminente crise de energia na Europa, todos com Tel Aviv e Ancara em comum.
O anúncio do restabelecimento das relações diplomáticas plenas e o retorno dos embaixadores e cônsules com representação diplomática completa foi seguido por uma ligação entre o primeiro-ministro israelense Yair Lapid e o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, apesar da convicção israelense de que a situação “não mudou completamente”.
Os líderes políticos e de segurança israelenses não esqueceram as acusações de Erdogan de que Israel está cometendo genocídio contra os palestinos, seguido por seu famoso confronto violento com Shimon Peres em Davos, o ataque à flotilha Mari Marmara e os duros ataques verbais. Apesar do pedido de desculpas de Benjamin Netanyahu a Erdogan em 2013 e da assinatura de um acordo em 2016 para compensar as vítimas do Mavi Marmara, a hostilidade turca em relação a Israel continuou. Em 2020, Erdogan atacou os acordos de normalização com os países árabes e há apenas uma semana acusou Israel de matar crianças na Faixa de Gaza durante a recente agressão.
O recente anúncio da retomada das relações turco-israelenses não foi surpreendente. Foi precedida por uma maratona diplomática nos bastidores, que atingiu seu auge durante a visita do presidente israelense Isaac Herzog a Ancara. Herzog é quem promoveu a normalização com os turcos, em cooperação com o então ministro das Relações Exteriores Yair Lapid, que também visitou a Turquia, embora o próprio Lapid tenha se oposto ao acordo de reconciliação que Netanyahu assinou com Erdogan.
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Os interesses de segurança israelenses não parecem longe de se reconciliar com a Turquia, especialmente sobre o futuro da hospedagem dada a lideranças e quadros do Hamas, sem mencionar os recentes esforços feitos pelos serviços de segurança turcos para impedir um ataque iraniano contra turistas israelenses em seu solo. A cooperação de inteligência turco-israelense apareceu em seus níveis mais altos, o que pode ter contribuído para encurtar o caminho para uma normalização completa das relações.
Ao mesmo tempo, a reconciliação turco-israelense pode estar ligada ao que este último descreve como a ameaça iraniana, embora Erdogan, apenas algumas semanas depois de impedir a tentativa iraniana de realizar ataques contra israelenses em seu país, tenha viajado para Teerã e se encontrado com seus homólogos iranianos e russos Ibrahim Raisi e Vladimir Putin, uma questão que acendeu luzes de alerta em Tel Aviv sobre as consequências desse encontro repentino.
Os israelenses consideram que o ponto de virada mais importante na retomada das relações turco-israelenses está no aspecto econômico, especialmente se Israel decidir transferir o gasoduto para a Europa via Turquia, ou pelas áreas marítimas sob seu controle. Essa ideia, no entanto, não é totalmente apoiada pelos líderes de segurança israelenses que acreditam ter boas razões para não cometer tal erro, pois não confiam na Turquia. Ancara continua incitando aliados israelenses na Grécia e Chipre, portanto, a reconciliação pode abrir caminho para acalmar as tensões que Ancara tem com Atenas e Nicósia, para fortalecer laços.
Embora Israel tenha saudado a plena retomada das relações com a Turquia, incluindo a troca de embaixadores e o retorno dos voos, alguns círculos diplomáticos e políticos em Tel Aviv alertaram que essa acolhida era prematura e exagerada. A normalização das relações com Ancara pode não durar muito, à luz das contínuas suspeitas mútuas e do fato de que as duas partes chegaram a isso porque ambos precisam de uma reconciliação imediata, não porque se tornaram dois aliados que confiam um no outro, especialmente com os desafios contínuos que enfrentam.
Os israelenses vêem que a Turquia é quem iniciou os passos da normalização e mostrou um grande motivo para promovê-la. No entanto, a lembrança da tensão com Erdogan, e suas numerosas declarações hostis contra eles, moderou seu entusiasmo e até levantou suas dúvidas sobre seus motivos hoje, e fez com que esse progresso cauteloso em direção a Ancara desacelerasse.
Ancara e Tel Aviv conseguiram construir uma relação que permitiu o diálogo bilateral mesmo em tempos de crise, e isso ficou claro na cooperação entre seus serviços de segurança contra as tentativas do Irã de assassinar turistas israelenses. Isso fortaleceu ainda mais a relação de segurança entre eles e acelerou a renovação das relações, levando à aprovação do pedido de Ancara para fortalecer as relações oficiais entre eles e, pela primeira vez, as companhias aéreas israelenses passaram a poder voar para Ancara desde 2009.
Apesar deste desenvolvimento das relações bilaterais entre Ancara e Tel Aviv, há uma série de desafios regionais que podem atrapalhar a plena normalização das relações, especialmente porque essa reaproximação coincide com a presença de uma delegação turca em Washington para discussões sobre a compra de caças F-16. Embora o governo dos EUA apoie o acordo, há grande oposição no Congresso devido à reaproximação entre Turquia e Rússia nos últimos anos.
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Outro desafio enfrentado por Tel Aviv e Ancara é que esta última é um importante parceiro comercial de Israel, onde o volume de trocas comerciais é de US$ 8 bilhões. Isso destaca a necessidade de atualizar o acordo de livre comércio assinado entre os dois países em 1996, que constitui a base das relações comerciais bilaterais, mas não é mais compatível com algumas das necessidades econômicas atuais.
Outra questão que pode contribuir para conter essa reaproximação nas relações é que qualquer deterioração militar entre a ocupação e os palestinos pode causar uma nova troca de acusações entre Ancara e Tel Aviv, o que foi visto em momentos de agressão israelense a Gaza entre 2008- 2022. Nesse cenário, as coisas podem voltar ao estado normal de tensão.
As próximas eleições israelenses em novembro e na Turquiaem junho de 2023 também representam um desafio. Isso pode levar a um cenário em que ambos os lados dêem maior prioridade a assuntos internos em vez de questões externas de uma forma que prejudicaria as relações bilaterais. Além disso, as eleições israelenses podem levar ao retorno de Netanyahu, que é um obstinado oponente de Erdogan. Isso pode levar as relações a regredir.
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