O Catar deportou operários estrangeiros que demandam o pagamento de honorários atrasados após anos de trabalho nos estádios e instalações da Copa do Mundo de Futebol FIFA de 2022, a ser realizada entre 20 de novembro e 18 de dezembro deste ano.
Em 14 de agosto, em torno de 60 profissionais se reuniram em frente aos escritórios do Grupo Internacional Al Bandary, em Doha. Os operários então obstruíram o Rodoanel C – ao redor da capital catariana.
Dentre os trabalhadores, estão imigrantes de Bangladesh, Índia, Nepal, Egito e Filipinas – alguns dos quais não são pagos há sete meses.
Global Football fans: A reminder the #WorldCup you love has been in part built by migrant workers whose wages have been stolen.
To mark 3-month tournament countdown, #Qatar arrests migrant workers for protesting wage theft; story via @EquidemResearch https://t.co/APFCPxigBv pic.twitter.com/FWXZncDjx5
— Minky Worden (@MinkysHighjinks) August 23, 2022
O governo catariano confirmou sua detenção e deportação por “violação da ordem pública”. Os manifestantes foram levados a um centro de detenção, de onde um dos profissionais contactou o centro de pesquisa Equidem, especializado em direitos humanos e trabalhistas.
Segundo a denúncia, os operários tiveram de dormir sem circulação de ar adequada sob o calor catariano. Alguns trabalhadores receberam seus honorários atrasados após os protestos e uma série de denúncias internacionais – outros, ainda não.
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Em maio, a organização Human Rights Watch lançou a campanha Pay Up FIFA (Pague FIFA) para estabelecer um fundo indenizatório de US$440 milhões – equivalente à premiação em dinheiro do campeonato de futebol.
Migrant workers in Qatar are not just unpaid for months of hard work, but arrested and deported to their home countries for demanding their fair dues. https://t.co/hFGDdUEThS
Tell FIFA and Qatar to pay up now #PayUpFIFA
— Human Rights Watch (@hrw) August 23, 2022
Os recursos são destinados a trabalhadores imigrantes que sofreram abusos dentre as obras e os preparativos para a realização do torneio.
Em agosto, a Adidas se tornou a primeira empresa patrocinadora da FIFA a apoiar o chamado.
Segundo o Human Rights Watch, desde 2010, quando o Catar foi escolhido como sede da Copa do Mundo FIFA, milhares de trabalhadores morreram em serviço ou tiveram salários roubados por seus empregadores, forçados a trabalhar sob condição análoga à escravidão.
Qatar is so hot in summer that the World Cup was moved to November, but many migrants worked year-round to build 8 new stadiums. Thousands may have died, but when their deaths were attributed to "natural causes," Qatar denied their families compensation. https://t.co/i8y38foKkW
— Kenneth Roth (@KenRoth) August 24, 2022
“A FIFA falhou em cumprir suas responsabilidades sobre os direitos humanos; o Catar, suas obrigações, tanto para impedir violações quanto para conceder compensação adequada às vítimas e suas famílias”, reiterou o órgão humanitário internacional.
Trabalhadores imigrantes construíram cerca de US$220 bilhões em infraestrutura para o campeonato de futebol, incluindo oito estádios, novos hotéis e estradas para conectar as instalações.
Ao nomear o Catar como sede da Copa do Mundo, a FIFA não impôs quaisquer medidas ou condições para proteger operários imigrantes. Dentre as causas de óbito, estão excesso de calor e péssimas condições de trabalho.
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