Um relatório confidencial da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) não encontrou provas para fundamentar a decisão israelense de classificar seis instituições da sociedade civil palestina como “grupos terroristas”.
Segundo relatos, a agência submeteu dados de inteligência a seus homólogos israelenses, no início do ano, mas descartou as alegações sobre as ongs alvejadas, ao concluir que o material analisado não demonstrou qualquer suporte à posição de Tel Aviv.
Segundo o jornal britânico The Guardian, uma fonte confirmou que o relatório da CIA “não atribui qualquer culpa aos grupos em questão”. Uma segunda fonte insistiu que a análise é altamente sigilosa.
Neste entremeio, o Presidente dos Estados Unidos Joe Biden e seu governo permanecem sob pressão para assumir uma posição veemente sobre a matéria, sobretudo após vários países – incluindo aliados de Israel – rejeitarem os esforços de criminalização.
Washington, no entanto, não criticou ou questionou publicamente a investida de Tel Aviv, até recentemente, apesar de suas agências corroborarem a falta de provas.
“Os Estados Unidos devem ser bem claros ao reivindicar que o governo israelense reverta as designações e permita que as organizações mantenham seu trabalho vital”, comentou Omar Shakir, diretor do Human Rights Watch (HRW) para Israel e Palestina.
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“A realidade é que Washington lava suas mãos há tempo demais; em alguns casos, até mesmo autorizou abusos bastante graves por parte de Israel”, acrescentou Shakir.
Shakir destacou que a posição americana sobre as organizações palestinas é parte de um padrão que aponta o fracasso dos Estados Unidos em proteger verdadeiramente direitos humanos na região, em particular.
“Sua postura sobre as organizações palestinas revela um fracasso muito maior da política de Washington sobre a questão israelo-palestina e mostra que seu governo está absolutamente desvinculado do consenso sobre direitos humanos”, concluiu Shakir.
Em outubro, Tel Aviv criminalizou as seguintes ongs da sociedade civil: Associação de Direitos Humanos e Apoio aos Prisioneiros Addameer, Fundação al-Haq, Centro Bisan para Pesquisa e Desenvolvimento, União dos Comitês de Mulheres Palestinas (UPWC), União dos Comitês dos Trabalhadores Agrários (UAWC) e a Defesa da Infância Internacional – Palestina, cuja matriz é sediada em Genebra.
Na época, relatos sugeriram que os avanços israelenses para desacreditar tais grupos decorriam de seu trabalho junto ao Tribunal Penal Internacional (TPI), que investiga a ocupação por crimes de guerra e lesa-humanidade.
Não obstante, o repúdio à investida israelense foi quase universal.
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Após breve hiato nas doações aos grupos, diplomatas europeus confirmaram não encontrar evidências para as alegações da ocupação e retomaram o envio de recursos. Em julho, nove países expressaram sua recusa em interromper a colaboração com as ongs palestinas.
A associação Israelenses Contra o Apartheid também rechaçou a medida. Em solidariedade aos palestinos, a fundação judaico-israelense condenou a decisão em carta aberta com mais de mil assinaturas. Ativistas da organização reforçaram seu apelo em favor do movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), contra o regime de apartheid imposto por Israel.
Na última semana, autoridades sionistas escalaram seus ataques ao invadir escritórios das ongs palestinas na Cisjordânia ocupada. Agentes armados confiscaram documentos e computadores e soldaram as portas das repartições.
Washington expressou somente “preocupação” sobre as ações israelenses, apesar de corroborar a falta de evidências suficientes para tanto.
Uma nota assinada por 150 organizações conclamou a comunidade internacional a responder aos ataques de Israel contra liberdades civis, representados no fechamento compulsório e na criminalização das ongs palestinas.
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