Um juiz dos Estados Unidos negou aos fundadores da fabricante de sorvetes Ben & Jerry’s o direito de impedir que seus produtos sejam vendidos nos assentamentos ilegais israelenses instalados nos territórios palestinos ocupados.
No início de agosto, a marca global contestou esforços da corporação matriz Unilever para transferir sua propriedade intelectual a um empresário israelense.
A Ben & Jerry’s confirmou que a venda de seus sorvetes nos territórios ocupados – sob regime de apartheid, segundo relatórios de grupos influentes de direitos humanos, incluindo a Anistia Internacional e outros – é “inconsistente com os valores da marca”.
Uma corte americana, no entanto, indeferiu o recurso da empresa e alegou que os advogados não apresentaram provas suficientes de danos irreparáveis oriundos da resposta da Unilever.
A disputa entre os fundadores da Ben & Jerry’s e da multinacional Unilever chegaram ao ápice em julho, quando a sorveteria de Vermont declarou seu boicote à ocupação de Israel. A Ben & Jerry’s possui histórico de ativismo político e recebeu garantias de independência para mantê-lo após a aquisição da gigante Unilever, nos anos 2000.
LEIA: A decisão de Ben&Jerry é “legítima e necessária”, diz a Anistia
A retirada da Ben & Jerry’s do mercado colonial sucedeu uma série de relatórios de grupos de direitos humanos – como a ong israelense B’Tselem, o Human Rights Watch (HRW) e a Anistia Internacional –, segundo os quais Israel conduz crimes de apartheid.
As denúncias corroboraram evidências do movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS). A decisão da Ben & Jerry’s, no entanto, foi exclusive aos assentamentos nos territórios palestinos, sem qualquer impacto às fronteiras reconhecidas de Israel – capturadas durante a Nakba ou “catástrofe”, mediante limpeza étnica, em 1948.
A empresa tampouco expressou apoio ao movimento de BDS, mas registrou recurso após a Unilever confirmar a venda de sua licença regional a um controverso empresário israelense.
A Ben & Jerry’s argumentou que a venda da Unilever foi imposta sem consentimento de seu conselho diretor, em detrimento do contrato de fusão, que lhe concede independência para proteger os valores fundacionais e a reputação da marca.
Na segunda-feira (22), todavia, o juiz distrital Andrew Carter decretou que a Ben & Jerry’s “falhou em demonstrar danos irreparáveis”, ao descrever os argumentos da defesa como “deveras especulativos”.
Fundada em 1978, a Ben & Jerry’s é notória por comercializar produtos especiais em apoio a causas progressistas, como proteção do meio ambiente e direitos humanos.
Ao confirmar evidências de que a causa palestina sofre de ataques à liberdade de expressão, a Ben & Jerry’s jamais sofreu represálias institucionais por seu posicionamento ético, até decidir boicotar o regime de apartheid instaurado por Israel.
Em ato falho, o diretor executivo da Unilever, Alan Jope, corroborou o padrão duplo de sua própria empresa: “Há diversas causas para a Ben & Jerry’s se concentrar, em sua missão de justiça social, sem se meter em questões geopolíticas”.
LEIA: Por que Israel teme ser boicotado por uma empresa de sorvetes?
Segundo Jope, a empresa deve se ater a “temas seguros” como mudanças climáticas e justiça social. Seu comentário foi contestado, ao apartar esforços palestinos contra a colonização e a ocupação militar de suas terras do que é aceito institucionalmente como “justiça social”.
Como muitas companhias, a Unilever propagandeia supostos princípios de responsabilidade social. “Queremos uma sociedade em que todos sejam tratados com igualdade”, comenta a marca em suas diretrizes. “Trabalhamos para criar um mundo mais justo e inclusivo”.
Em seguida reconhece a Unilever: “Muitos povos são excluídos e sub-representados meramente por quem são”.