Diversos artistas americanos, ingleses e franceses se retiraram do Festival Pop-Kultur de Berlim devido a sua parceria com o Departamento de Cultura da Embaixada de Israel.
A cantora e compositora Lafawndah removeu sua participação pouco após o início do evento, nesta quarta-feira (24), quando denunciou o apoio dos organizadores “ao racismo, à violência colonial e ao assassinato”.
Lafawndah deixou o evento segundo diretrizes da campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) e denúncias da ong israelense B’Tselem, do Human Rights Watch (HRW) e da Anistia Internacional – entre outras entidades de direitos humanos – de que Israel perpetua crimes de apartheid contra o povo palestino.
“Ativistas palestinos, organizações judaicas de todo o mundo, artistas israelenses e ativistas queer residentes em Berlim, todos pediram aos participantes do festival que cancelem suas aparições”, comentou Lafawndah.
“Na última semana, Israel admitiu que seus ataques aéreos mataram cinco crianças palestinas em Gaza, incluindo quatro crianças de uma única família”, reafirmou. “Em sua ofensiva de três dias, Israel matou mais de 47 pessoas no território palestino”.
“Ao manter sua parceria com Israel, o Festival Pop-Kultur deliberadamente encobre tais crimes. Sua postura comprova na prática apoio ao racismo, à violência colonial e ao assassinato, apesar de sua linguagem de marketing sobre inclusão, diversidade e tolerância”.
Lafawndah também acusou os organizadores de tentarem omitir o vínculo entre o festival e a embaixada sionista: “O fato de que o Pop-Kultur encobriu sua parceria até três semanas atrás alimenta profunda frustração para mim e, tenho certeza, em muitos outros artistas”.
A cantora e compositora britânica Alewya – conhecida por seu gênero trap e de referência afro – também cancelou sua participação no evento como forma de boicotar a ocupação israelense. No Instagram, escreveu: “Palestina Livre. Todos os dias. Até que seja feito”.
Outros artistas seguiram a deixa, incluindo o músico parisiense Franky Gogo e a cantora Trustfall, que deveria se apresentar junto de Lafawndah.
Em resposta às denúncias, afirmou o festival: “O Pop-Kultur tem recursos do Departamento de Cultura do Estado de Berlim, do Fundo Europeu para Desenvolvimento Nacional e da Comissão Federal de Cultura e Mídia. Artistas podem receber apoio de embaixadas ou entidades de seus respectivos países para viajar e realizar seus projetos – prática comum no intercâmbio cultural internacional”.
“Trabalhamos com todos os países formalmente reconhecidos pela Alemanha”, reiterou. “Parceiros e patrocinadores não têm influência na programação. O apoio de associações culturais de países em particular depende de decisões artísticas ao longo do processo de organização do evento”.
“O projeto comissionado BĘÃTFÓØT feat. Kunty Klub recebe fundos do Departamento de Cultura da Embaixada de Israel. Atualmente, a embaixada é uma das três associações que fornecem assistência de desenvolvimento e viagem aos artistas”.
“Os logotipos correspondentes às concessões foram publicados em nosso website em data posterior, quando recebemos a confirmação das instituições ou quando sentimos que seria adequado esperar uma decisão positiva”, alegou o evento sobre a protelação em elucidar o patrocínio.
Concluiu o comunicado: “A posição do Pop-Kultur é a mesma de 2017, 2018 e 2019. Caso não queiram se apresentar no festival, pois recebemos acomodação e suporte … da Embaixada de Israel em Berlim, lamentamos a decisão; contudo, acatamos. Boicotar … não é nossa decisão. Permanecemos abertos ao diálogo construtivo, pois é importante para nós buscar uma troca significativa sobre tais assuntos”.
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